nº 500 - Ó Pioneiro!


Autor: Frederik Pohl
Título original: O Pioneer
1ª Edição: 1998
Publicado na Colecção Argonauta em 1999
Capa: António Pedro
Tradução: Alexandra Santos Tavares

Súmula - foi apresentada no livro nº499 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

O próximo volume representa um marco histórico na edição de obras de ficção-científica em Portugal, pois pela primeira vez uma colecção do género atinge o nº500, após uma publicação regular ao longo de mais de 45 anos!
Por tal motivo, será incluída a lista dos títulos publicados, por ordem alfabética de autores, desde o nº1, ou seja, entre Novembro de 1953 e Abril de 1999.
A obra apresentada é Ó Pioneiro", versão portuguesa de "O Pioneer!", escrita por Frederik Pohl, três vezes distinguido com os prémios Hugo e Nébula e com o John W. Campbell Memorial Award. Traga-se da história de Evesham Giyt, um aventureiro cansado de explorar o mundo da informática, que aproveita a descoberta de um meio de transporte instantâneo para outros mundos, além no espaço, e emigra para o planeta Tupelo, onde acabará por ser eleito Presidente da comunidade!
Segundo Eurico da Fonseca, Ó Pioneiro - escolhido especialmente para o nº500 da Colecção Argonauta - é não só uma das melhores obras de ficção-científica em todos os tempos, mas também uma curiosas sátira às políticas que hoje imperam dentro das empresas, um tema nunca antes focado.

Nota do Editor: 500º Volume 

Entre o nº 1 - Perdidos na Estratosfera, da autoria do Professor A.M.Low - e o presente volume, decorreram quase 46 anos, durante os quais foi possível apresentar uma grande diversidade de autores e de obras, naturalmente nem todas agradando a todos, mas indo sempre ao encontro do gosto de um número muito significativo de leitores.
Em Novembro de 1953, quando o fundador da Editora Livros do Brasil, António de Souza-Pinto, lançou a Colecção Argonauta, publicar um só livro que fosse de Ficção Científica era prova de atrevimento extremo. Imagine-se, então, o anúncio de um colecção, com periodicidade regular! Mas foi o que sucedeu com a Argonauta e, afinal, o êxito acabou por recompensar plenamente a iniciativa.
Por isso, aqui estamos a saudar todos os leitores - sem dúvida os grandes obreiros da sobrevivência desta colecção - e a agradecer-lhes o entusiasmo com que a têm acolhido e acarinhado ao longo de muitas viagens espaciais, de vários anacronismos e de múltiplas proezas galácticas saídas da imaginação dos maiores escritores do género.
 
                                                                                                                                       O Editor
 
Ficção Científica, Semente do Futuro

Era ainda um rapazito, quanto tive o primeiro contacto com a ficção-científica. A Ilustração, uma revista de prestígio, sucessora da Ilustração Portuguesa, publicou uma história de um autor espanhol em que os automóveis presentes numa exposição se tornavam de súbito conscientes e corriam para a rua à caça de transeuntes. Naquele tempo as sobras das revistas iam parar às mercearias para fazerem embrulhos e mais tarde, encontrei numa folha do que depois vim a saber ser de uma "pulp magazine" uma gravura, em que se via um homem apontando uma espécie de lanterna para um penedo dentro do qual ele podia distinguir desse modo uma criatura envergando uma espécie de escafandro.
As duas histórias tiveram uma profunda influência em mim. Então, a palavra "fantasia" tinha um tom pejorativo - era sinónimo de mentira. Aquilo que se via e que se lia devia ser uma imagem da vida. O pensamento era mantido numa gaiola de regras e preconceitos. Inclusive na própria ciência - dezenas de anos depois de Hubble ter demonstrado que o Universo se estendia muito além da nossa galáxia, os nossos livros escolares ainda não iam tão longe. As obras de Walter Scott e de Alexandre Herculano eram lidas como se contassem coisas que tivessem acontecido e o mesmo acontecia com as de Emílio Salgari e aos folhetos que falavam de Bufallo Bill e de outros aventureiros do Far West. Quando um professor me aconselhou a que lesse as obras de Júlio Verne ("Júlio" e não "Jules" - assim se dizia) não o fez para que o meu espírito se soltasse e navegasse à vontade pelo tempo e pelo espaço, mas sim para que, através das páginas de "A Ilha Misteriosa" aprendesse como até numa ilha perdida os conhecimentos de matemática, física e química, eram indispensáveis. Pena é que muitos dos jovens de hoje nem sequer se apercebam disso.
Entretanto, as grades da gaiola tinham-se aberto para mim. Verne fora um construtor de futuro, um homem que recorrera à antecipação para mostrar quanto a Humanidade poderia progredir através do conhecimento científico e técnico - mais tarde viria a saber que ele fora o intérprete das preocupações dos cientistas e dos engenheiros franceses perante o progresso dos Impérios Britânico e Germânico. A leitura das suas obras inspirou homens que foram fundamentais para o desenvolvimento da exploração do espaço, como Robert Hutchings Goddard e Wernher von Braun, mas há ainda outro aspecto ainda mais relevante: o seu predecessor, Konstantin Tsiolkowski, o pai da Astronáutica e enunciador das leis do movimento dos foguetes no espaço cósmico, para expor - cento e dez anos atrás! - os princípios dos seus motores, da associação em "andares", dos satélites artificiais e do comportamento dos seres vivos e das coisas no estado de ausência de peso, teve de recorrer àquilo a que hoje se chama ficção-científica. Nenhuma instituição teria dado o mínimo crédito aos seus trabalhos se eles tivessem sido expostos pelos processos académicos.
Das "bombas de explosão contínua" com que H.G. Wells no princípio do século previu os efeitos das radiações atómicas, ao sinistro cogumelo descrito com todos os pormenores por Hans Dominik em O Segredo da Grande Pirâmide no começo dos anos 20, aos escritos de Robert Heinlein, há mil e um exemplos... alguns, como esses, perturbadores, mas muitos outros promissores - de como a ficção-científica, longe de ser um tipo de literatura de evasão, é uma fornalha onde as ideias não convencionais, na ciência, na técnica, e em muito mais, são postas a caldear, para se tornarem uma realidade quando menos se espera.
Que a Colecção Argonauta tenha chegado ao nº500, e por certo irá continuar por muitos anos e bons, é sinal que algo mudou. A "fantasia" já não é confundida com a mentira, com a ilusão. Agora é a porta da esperança. Um sinal disso é, curiosamente, a identificação das histórias de OVNI com os clássicos da FC - os "homenzinhos verdes" surgiram com O Estranho Mundo de Kilsona, o segundo volume da Argonauta., mas hoje são a imagem a que recorrem muitos dos que desejariam não estar sozinhos neste Universo. Não foi também por acaso que 2001 Odisseia no Espaço se tornou num marco da história do Cinema. Mas não é só no aspecto psicológico que a ficção-científica assumiu um papel de guia. Recorde-se outro volume da Argonauta - Revolta na Lua, de Heinlein: o primeiro em que se desenvolveu a possibilidade de os computadores criarem personagens artificiais, inspirando as técnicas usadas em filmes desde Toy Story a Titanic e mil e um efeitos especiais.
Os 500 volumes da Argonauta não foram o resultado de uma mudança na nossa mentalidade - foram a causa dessa mudança. O facto de ter traduzido metade deles, é a melhor das minhas memórias. Ao fazê-lo, senti que estava a deitar à terra as sementes do futuro.
 
                                                                                                                             Eurico da Fonseca  


Nota: este número tem a lista de todas as obras publicadas até à data. Todavia, nessa lista falta o célebre e raríssimo nº 130-A, intitulado Estação de Trânsito, do autor Clifford D. Simak. Inicia-se também aqui a 5ª fase das capas, onde  as lombadas passam a ser muito claras, de um tom cinzento.

Colecção Argonauta do nº451 ao nº500

 

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