Autor: Poul Anderson
Título original: No World of Their Own
1ª Edição: 1955
Publicado na Colecção Argonauta em 1969
Capa: Lima de Freitas
Tradução: Eurico da Fonseca
Súmula - foi apresentada no livro
nº143 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula
do próximo volume da Colecção Argonauta":
Cumpriram as ordens, alcançaram as estrelas e regressaram à Terra com um visitante - uma estranha criatura nascida nas estrelas que eles pensavam vir a ser objecto de grande curiosidade. Não suspeitavam que nela havia alguma coisa capaz de pôr todo o planeta em chamas.
Cumpriram as ordens, alcançaram as estrelas e regressaram à Terra com um visitante - uma estranha criatura nascida nas estrelas que eles pensavam vir a ser objecto de grande curiosidade. Não suspeitavam que nela havia alguma coisa capaz de pôr todo o planeta em chamas.
E o mundo a que regressaram não era o seu. Era um mundo estranho, em que os homens estavam divididos em senhores e escravos, em que todos os dias eram iguais aos anteriores e aos futuros - só diferindo nomal, na intriga, na cobiça.
Eis, nas suas linhas gerais, o tema da obra de Poul Anderson - um dos maiores nomes da ficção-científica actual, mestre na descrição de civilizações e criaturas de outros planetas. Nem umas nem outras tão estranhas, porém, como as da Terra, daqui a cinco mil anos...
Romance emocionante, dele extractamos algumas das suas páginas, através das quais nos introduz no âmago da sua narrativa:
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A nave saíu como um relâmpago do ultravoo e ficou suspensa nas trevas onde ardiam as estrelas. Durante um momento fez-se silêncio, e então ouviu-se:
- Onde está o Sol?
Edward Langley fez girar a sua cadeira de piloto. Na cabina havia uma calma estranha. Só ouvia o murmúrio dos ventiladores e o bater do seu coração. O suor corria-lhe pelas costelas; o ar estava quente.
- N... não sei - disse ele por fim. As palavras pareceram duras e vazias. Havia visores no painel de comando que lhe davam uma imagem do céu inteiro. Via Andrómeda e a Cruz do Sul, e a grande nebulosa de Orion, mas no sítio onde esperava que o esplendor surgisse só se encontrava o vazio absoluto.
A ausência de peso sentiu-se como uma queda infinda.
- Estamos na região procurada, sem dúvida - disse ele um minuto depois. - As constelações são as mesmas, mais ou menos. Mas... - a sua voz como que morreu.
Quatro pares de olhos fitaram os visores esfomeadamente. Por fim, Matsumoto falou:
- Vejam Leo - está lá a mais brilhante das estrelas visíveis.
Observaram o esplendor dourado.
- É verdade, tem a cor devida - disse Blaustein. - Mas está tremendamente afastada.
Depois de outra pausa, resmungou de impaciência e debruçou-se sobre o espectrosctópio. Apontou-o cuidadosamente para a estrela, introduziu nele uma fotografia do espectro solar e carregou num botão, na unidade de comparação. A luz vermelha não se acendeu.
- Identidade absoluta, até nas riscas Fraunhofer - afirmou ele. - A mesma intensidade em cada risca, apenas com alguns quanta de diferença. Ou é o Sol, ou um gémeo dele.
- Mas a que distância está? - murmurou Matsumoto.
Blaustein ligou o analisador fotoeléctrico, leu um mostrador e passou uma régua de cálculo através dos dedos:
- Cerca de um terço de anos-luz. Não está muito longe.
- O diabo é que não está - resmungou Matsumoto.
- Devíamos ter surgido a uma unidade astronómica (a distância média da Terra ao Sol). Não me digam que esse maldito motor falhou mais uma vez.
- Parece, não parece? - murmurou Langley. As suas mãos aproximaram-se dos comandos. - Dou mais um salto em direcção a ele?
- Não - respondeu Matsumoto. - Se o nosso erro de posição é tão mau, mais um salto colocar-nos-á dentro do próprio Sol.
- O que será o mesmo que aparecer no Inferno, ou no Texas - disse Langley. Sorriu-se, ainda que sentisse na garganta uma amargura interior. - Muito bem, rapazes, o melhor será irem à proa e arranjarem esta ratoeira. Quanto mais depressa descobrirem o que está errado, mais depressa poderemos chegar a casa.
Moveram a cabeça, num gesto de concordância, desapertaram o cinto e saíram da sala de pilotagem. Langley suspirou.
- Não podemos fazer outra coisa senão esperar. Saris! - disse ele.
O Holatiano não respondeu. Nunca falava sem necessidade. O seu corpo enorme, coberto de pêlo, estava imóvel no leito de aceleração que haviam improvisado para ele, mas os olhos permaneciam atentos. Despreendia-se dele um ligeiro odor, que nada tinha de desagradável. Lembrava a relva aquecida pelo Sol, num largo horizonte. Parecia fora do seu lugar naquele estreito caixão de metal; pertencia ao céu aberto, às águas correntes.
Os pensamentos de Langley espraiaram-se: "um terço de anos-luz. Não é demasiado. Voltarei para junto de ti, Peggy, nem que tenha de percorrer todo o caminho de rastos."
Depois de ligar o comando automático da nave, na improvável previsão do encontro cmo um meteoróide, Langley libertou-se da cadeira e disse:
- Não devem demorar muito tempo. Já fizeram daquilo uma ciência, tantas vezes desmantelaram aquele monte de sucata. Entretanto, quer jogar um pouco de xadrez?
Saris Hronna e Robert Matsumoto eram os adeptos do xadrez, a bordo do Explorer, e era estranho vê-los a jogar: um homem cujos antepassados haviam trocado o Japão pela América e uma criatura de um planeta distante de mil anos-luz, apanhados pela rede de um persa morto há muitos e muitos séculos. Mais do que o enorme vazio atravessara, masi do que os sóis e planetas que via girar nas trevas, aquelo dava a Langley uma sensação de imensidade e da omnipotência do Tempo.
- Não, obrigado. - As presas brilhavam, brancas, enquanto a boca e a garganta formavam uma linguagem para a qual não haviam sido criadas. - Prefiro este novo e surpreendente acontecimento considerar.
Langley encolheu os ombros. Ao fim de semanas de vida em comum, ainda não se conseguira habitual aquele ser de Holat - o animal feroz que farejava os caminhos da floresta, ali sentado com olhos sonhadores, horas e horas, e a cabeça cheia de uma filosofia incompreensível. Mas já não se sentia perturbado.
- Muito bem, filho - disse ele. - Então vou pôr em ordem o diário de bordo. Empurrou a parede com um pé e abriu a porta. Atravessou um corredor estreito. No fim, fez uso das suas mãos experientes, girou em volta de um pilar, entrou num pequeno compartimento e dobrou as pernas em volta de uma cadeira presa a uma secretária.
O diário de bordo estava aberto, preso pelo magnetismo das suas ferragens. Com uma preguiça que era a melhor arma contra a sua furiosa impaciência, começou a folheá-lo.
Introdução:
Poul Anderson nasceu em Bristol, na Pensilvânia, e licenciou-se em Física na Universidade de Minnesota. Escrevia por divertimento e publicou algumas histórias, ainda quando estudante. Depois, como lhe fosse difícil obter um emprego adequado, continuou a escrever. Até que, com sua surpresa, verificou que não era um cientista, mas sim um escritor nato.
A ficção-científica não é o único género literário a que Poul Anderson se dedica. As suas obras realistas e históricas são também bem conhecidas. Mas a habilidade e a elegância com que descreve a vida no futuro - num futuro quase sempre muito longínquo - em muitos povoados por criaturas não humanas, é absolutamente incomparável. Nenhum autor do género é capaz como ele, de expresar em todos os seus pormenores mentalidades e civilizações que não têm qualquer ponto de contacto com aquelas que conhecemos, sem abandonar a lógica mais pura e sem recorrer a artifícios dúbios ou excessivamente imaginosos.
Por isso se compreende que muitas das suas obras tenham sido traduzidas nas mais diversas línguas e que algumas delas figurem na Colecção Argonauta (nº110 - Estrelas Inimigas; nº126 - O Planeta dos Homens Alados). Em Homens sem Mundo, Poul Anderson leva-nos porém ainda mais longe. Porque a civilização estranha que descreve é a da própria Terra. Num futoro que, felizmente, estará bem longe de nós.
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Introdução:
Poul Anderson nasceu em Bristol, na Pensilvânia, e licenciou-se em Física na Universidade de Minnesota. Escrevia por divertimento e publicou algumas histórias, ainda quando estudante. Depois, como lhe fosse difícil obter um emprego adequado, continuou a escrever. Até que, com sua surpresa, verificou que não era um cientista, mas sim um escritor nato.
A ficção-científica não é o único género literário a que Poul Anderson se dedica. As suas obras realistas e históricas são também bem conhecidas. Mas a habilidade e a elegância com que descreve a vida no futuro - num futuro quase sempre muito longínquo - em muitos povoados por criaturas não humanas, é absolutamente incomparável. Nenhum autor do género é capaz como ele, de expresar em todos os seus pormenores mentalidades e civilizações que não têm qualquer ponto de contacto com aquelas que conhecemos, sem abandonar a lógica mais pura e sem recorrer a artifícios dúbios ou excessivamente imaginosos.
Por isso se compreende que muitas das suas obras tenham sido traduzidas nas mais diversas línguas e que algumas delas figurem na Colecção Argonauta (nº110 - Estrelas Inimigas; nº126 - O Planeta dos Homens Alados). Em Homens sem Mundo, Poul Anderson leva-nos porém ainda mais longe. Porque a civilização estranha que descreve é a da própria Terra. Num futoro que, felizmente, estará bem longe de nós.
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