nº 68 - O Espaço Será Pequeno



Autor: Fredric Brown
Título original: Space On My Hands
1ª Edição: 1951
Publicado na Colecção Argonauta em 1962
Capa: Lima de Freitas
Tradução: Mário Henrique Leiria

Súmula - foi apresentada no livro nº67 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta: 


Fredric Brown não é um desconhecido. Autor de livros policiais e de ficção-científica, o leitor teve já certamente a oportunidade de ler na Colecção Vampiro dos Livros do Brasil, entre os livros dele publicados, esse belo exemplo das suas capacidades de ficcionista e que se intitulava O Prazer de Matar, número 137 da citada colecção.
O próximo volume da Colecção Argonauta, é uma colectânea de contos deste autor, em que as suas vastas capacidades nos dois campos se reúnem para provocar redobrado prazer ao leitor.
Imagine-se um jogador de dados misturando no copo estrelas, cometas, nebulosas e planetas, agitando bem os ingredientes, misturando-os e, num gesto rápido mas brilhante, espalhá-los sobre um pano verde, exclamando: "Eis um novo Universo!"
Porque é esse Universo de Fredric Brown, onde o maravilhoso caminha a passos largos para o ainda mias maravilhoso. São diversos contos de ficção-científica, de inexcedível prazer para quem os lê.
Que faria um homem que tivesse ficado só num planeta após o desastre do seu foguetão? Como reage ele, ser terreno num ambiente hostil em que nada lhe recorda o planeta de origem, agora tão longínquo? É esse o tema brilhante dum dos contos desta colectânea, intitulado Verde (porque a côr desempenha realmente papel fundamental e motriz na história). 
Crise 1999, o primeiro conto a abrir a colectânea, é bem o exemplo de como Fredric Brown soube aliar os seus talentos de ficcionista que se exercem nos campos da literatura policial e da ficção-científica. O problema situa-se noutro aspecto: mais do que a perseguição do criminoso e do castigo do crime, fulcro central de quase todo o romance ou conto policial, aqui trata-se de não perseguir mais o criminoso e de deixar impune o crime. Como poderá uma solução destas ser moralmente aceitável para um Universo que não se encontra afinal muito distanciado no tempo, mas ao alcance de todos os jovens de hoje?
1999 é uma época relativamente próxima e os conceitos éticos não sofreram tão radical modificação que os tenham tornado completamente opostos aos de 1962. Por outro lado, naõ se trata de encarar um Universo dominado por forças que são combatidas ainda hoje. A reacção geral mantêm-se idêntica: porquê, então, deixar um criminoso impune, um profissional do crime em liberdade, sem o castigar pela longa série de actos que aguardam expiação?
Fredric Brown introduz um novo elemento, típicamente policiário, no Universo da ficção-científica: a expectativa, o mistério, a descoberta. E é por isso que, quando o leitor chegar ao fim deste conto não se sentirá logrado com a solução que, ao invés do que frequentemente acontece, não depende dum trunfo escondido na manga do investigador e que no final sómente é revelado ao leitor. Trata-se dum problema mais fundo e que já hoje em dia é sériamente estudado pelos psicanalistas e criminologistas. É, simultâneamente, uma revolução total, mas possível e provável, com elementos de que já hoje dispomos. 
Um outro conto desta colectânea, principia desta forma:
O último homem sobre a terra encontrava-se sentado numa sala. Era uma sala muito especial. Acabava de reparar na estranheza que a fazia parecer assim tão especial e procurava saber por que motivo dava essa impressão. A conclusão não o aterrorizou, mas aborreceu-o.   
Não era a aparência da sala que o preocupava. Naquele momento, de resto, as suas impressões eram limitadas. Abstractamente, ELE SABIA QUE, DOIS DIAS ANTES, NO ESPAÇO DE UMA HORA, TODA A RAÇA HUMANA FORA DESTRUÍDA EXCEPTO ELE E UMA MULHER; ALGURES... UMA MULHER... 
Dificilmente se encontrará processo de iniciar um conto ou um romance de forma a atrair mais e a satisfazer a atenção e as exigências do leitor. Mas as conclusões, os desenvolvimentos, progressos e meandros das histórias, sabê-los-á o leitor, com completa satisfação, quando ler O ESPAÇO SERÁ PEQUENO.

Introdução (do autor)

Sentado diante da minha Smith-Corona, preparado para escrever uma introdução para esta colectânea de contos a primeira coisa que me vem à ideia é uma pergunta: "para quê escrever uma introdução?" Nenhum destes contos é suficientemente convencional para que a sua leitura necessite dum prólogo. Sim. Em definitivo, reparo agora que falhei nomeu propósito de escrever estas histórias.
Porque motivo escrevo eu então esta introdução? Porque motivo qualquer escritor - a não ser que tenha uma mensagem importante e receie que o leitor não se aperceba dela, pretendendo desse modo frisá-la - escreve uma introdução para o seu livro? Pois bem, gato escondido com o rabo de fora é batota - veja-se o gato completo: é porque o editor, ávido de mais umas palavras extra, gratuitas, lhe afirmou que o prólogo era absolutamente necessário e pôs os pés à parede, que sim, que sem isso nada feito. Deste modo, o escritor perde uma noite, que poderia ser muito mais bem aproveitada graças aos outros processos bem mais conhecidos de passar as noites. Tantas coisas que nesta altura eu poderia estar a fazer em vez de escrever estas introdução!...
Enfim. Como vêem, já que fui colocado entre a espada e a parede para escrever este prólogo, quero ser honesto. Confesso que detesto escrever - introduções, contos, romances, cartas ou simples bilhetes postais. Nenhum destes contos foi escrito por que me tivesse apetecido fazê-lo ou isso me desse prazer - por mais que tenha apreciado o facto de os ter escrito, depois de os ver completos, mas isso já é outra história.
Uma coisa mais devo confessar: os contos de ficção-cientifica são os que me custam menos a escrever, e, quando escrevo a palafra FIM no termo dum livro deste género, sinto nisso maior satisfação do que se o fizesse noutro qualquer tipo de ficção. Possivelmente, isso deve-se ao facto de eu ter escrito até hoje relativamente poucas histórias de ficção-científica em comparação com os contos policiais, mas ainda assim, essa explicação não me parece suficiente. O motivo mais importante é que a ficção-científica, dando muito maior liberdade à imaginação e abrindo-lhe novos caminhos, ao mesmo tempo que impõe poucas ou quase nenhumas regras ou limitações, se aproxima, mais do que qualquer outro tipo de ficção, do campo em que se pode escrever com honestidade.
O escritor de ficção-científica detém um privilégio que é negado a todos os que não se dedicam a esse género, excepto os que escolhem a pura fantasia: ele pode construir o próprio cenário, o seu universo, pode igualmente elaborar o conto que pretende escrever; pode, por conseguinte, alcançar uma integridade negada ao escritor que possui apenas o normal universo e tem de sujeitar os produtos da sua imaginação a considerações de facto impostas pelo ambiente. "Facto", palavra horrível, quando nega o futuro e as estrelas!
Vejo agora como tenho estado a fazer uso de palavras grandiloquentes a propósito de alguns contos que o não merecem. Mas sinto-me feliz de os ter escrito porque, só depois de terminados, reparei em como eram verdadeiros. Peço-te desculpa, Sasha: hoje sinto-me feliz por me teres obrigado a escrevê-los. Retiro as minhas observações idiotas, a propósito do assunto.
E, como prova de arrependimento, sempre escreverei a tal introdução:
Leitor, apresento-lhe vários contos: o homem que se apaixonou pela projecção mental duma carocha, o detective de fatiota vermelha, a ostra de gravata com nó à La Valiére, o astrónomo Roger Jerome Phlutter, Napoleão Bonaparte e todos os outros que por estas páginas vão desfilar.
E, caro leitor, apenas mais um voto: que sinta tanto prazer na leitura destes contos, como o que eu senti quando recebi, no Banco, os cheques que me pagaram por os ter escrito.
  
Sinceramente vosso,

FREDRIC BROWN     

Contos publicados na obra:

1 - Verde
2 - Crise 1999
3 - Mecânica Celeste
4 - O Último Homem
5 - Sirius Coisa Nenhuma
6 - Vem e Endoidece
  

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