nº 285 - A Última Revolta na Terra



Autor: A.E.Van Vogt
Título original: Renaissance
1ª Edição: 1979
Publicado na Colecção Argonauta em 1981
Capa: A. Pedro
Tradução: Eurico da Fonseca 

Súmula - Foi apresentada no livro nº284 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":
De A.E.Van Vogt nada é necessário dizer - excepto que mais uma vez estará representado na Colecção Argonauta, agora com A Última Revolta na Terra, versão portuguesa de Renaissance, uma das suas últimas obras. 
Suponha-se um mundo do futuro - um mundo dominado pelas mulheres e em que os homens usam obrigatoriamente óculos que os tornam passivos e submissos.
Um dia, o Dr. Peter Grayson descobre acidentalmente uma maneira de se libertar desse domínio: uma fenda praticamente invisível, nos vidros rosados dos seus óculos, que o torna, de súbito, viril e poderoso. As mulheres desejam-no - porque está vivo!
Mas a fenda terá surgido de facto por um simples acidente? Sem que Grayson o saiba, a sua libertação está a ser vigiada por uma organização revolucionária que pretende servir-se dos seus poderes para expulsar os dominadores do mundo. Dominadores esses que não são mulheres - nem humanos!
Eis um pequeno extracto do início desta empolgante obra:
O físico Grayson ouviu o ruído peculiar - dois estalidos em sucessão rápida.
Ping... Ping - qualquer coisa como isso.
Um ruído muito débil...
Mas o que se seguiu foi instantâneo e inconfundível. As letras que ele estava a ler tornaram-se indistintas.
Grayson abanou a cabeça, impaciente, e aproximou o contrato dos óculos. Pontos dançaram por toda a página. Suspirou, recostou-se e fechou os olhos. Quando os abriu de novo, viu o problema.
Em ambas as lentes dos seus óculos havia uma fenda horizontal através do "vidro" transparente, exactamente ao nível das pupilas. 
Ficou um tanto ou quanto estupefacto. Que estranha coincidência. Ambas as lentes se tinham quebrado com meio segundo de intervalo - lembrava-se agora dos estalidos e esse devia ter sido o momento. Sendo uma pessoa com uma orientação estatística, pensou por um momento muito breve na probabilidade de uma quebra simultânea como aquela. Os números que surgiram no seu espírito eram tão astronómicos, e, de resto, impossíveis, que ele desistiu.
Silenciosamente, retirou os óculos inúteis e colocou-os sobre a secretária. A seguir, como que num nevoeiro, rebuscou numa das gavetas e encontrou um rolo de fita transparente - naturalmente, uma do tipo perfeito produzido pelos Haskett Laboratories para aplicações específicas. Não lhe ocorrera anteriormente utilizar a fita para reparar os óculos, e obviamente só a usaria naquela aplicação imprevista até obter uns óculos novos através do seu oftalmologista.
Como se prometia em letras miudinhas no suporte do rolo, a reparação exigia apenas alguns instantes. Depois, voltou a colocar a fita na secretária e os óculos no nariz - quando a porta se abriu e Miss Haskett entrou.
Era a sua entrada habitual, cheia de vitalidade. Sorriu-se e perguntou:
- Pode dispôr de um momento, Dr. Grayson? - O seu reportório de vitalidade esgotou-se. Deixou-se afundar numa cadeira. E aguardou a resposta com um ar fúnebre à sua volta.
Grayson observou a proprietária dos Haskett Laboratories por detrás dos óculos. Quando o fez, um espantoso pensamento passou através do seu espírito. Ocorreu-lhe que devia sentir-se culpado quanto a Miss Haskett. A vida solitária que ela levava gritava sem palavras por amor e afeição. E quem mais poderia responder a esse grito que o homem que ela confirmara como cientista-chefe quando herdara o negócio da sua falecida tia? As relações deles eram de gabinete, de resto. Mas tinham acompanhado toda a vida adulta dela.
Grayson pigarreou, subitamente inquieto perante os pensamentos que lhe estavam a ocorrer. Na verdade, ficara tão absorto por aquilo que acontecera que nem sequer notou a incongruência do que fez a seguir.
Disse: 
- Olá, Miss Haskett.
O que ele não notou foi a arrogância do seu tom. Como se ele fosse o patrão e ela a empregada. E por certo que ela não estava a pensar ou estava mentalmente bem longe dali. Porque perguntou num tom distraído:
- Que deseja, Doutor?
- Qual é o nome do oftalmologista que usamos para o pessoal masculino?
- Burr. Dr. Aaron Burr.
Grayson moveu a cabeça num gesto de concordância. Lembrava-se agora. A sua impressão de que fora um nome fácil de recordar fora correcta. No entanto, esquecer-se-ia dele novamente.
Deu conta de que o seu pensamento voltara a Miss Haskett. Perguntou-lhe:
- Que faz nos seus tempos livres?
- Oh... Várias coisas. - Subitamente pareceu mais alertada.
- Lê?
- Por vezes.
- Vai ao cinema?

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