nº 4 - A Nave Sideral


Autor: Murray Leinster
Título original: The Last Space Ship

1ª Edição: 1949
Publicado na Colecção Argonauta em 1954
Capa: Cândido Costa Pinto
Tradução: Fernando de Castro Ferro

Súmula - foi apresentada no livro nº3 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

Antes de Vasco da Gama e Magalhães, circulavam na Europa medieval as mais fabulosas lendas acerca de mares e continentes desconhecidos, povoados de animais estranhos e monstros fantásticos. Hoje, que os homens já exploraram de  ponta a ponta o planeta em que vivemos, a imaginação humana tenta desvendar os espaços interplanetários e os universos estelares. Os romances de ficção científica, que conhecem enorme voga sobretudo nos países anglo-saxónicos constituem um novo género literário quase inédito em Portugal. Tendo uma base científica, eles revelam no entanto, e acima de tudo, o prodigioso poder de imaginação dos homens - e é com o maior gosto que "Livros do Brasil" apresenta ao público português mais uma obra da sua Colecção Argonauta, que pelo seu ineditismo e pelo seu carácter simultâneamente científico, romanesco e aventuroso, está destinado sem dúvida ao maior êxito em Portugal, povo de navegadores e descobridores, que soube tentar a aventura e encontrar novos "mares nunca dantes navegados..._".
Em "A Nave Sideral" assistimos à luta de Kim Rendell, que vive num planeta super-industrializado e super-mecanizado, contra a máquina que sujeita os homens dessa era. O planeta Alphin III está a uns dez mil anos de distância da época em que vivemos, mas em Kim Rendell palpita ainda um clarão da antiga mentalidade e idealismo. Em Alphin III não há propriamente governantes - mas uma máquina "que não erra nunca".  Cada indivíduo está ligado a um "Circuito Disciplinar", e o menor passo em falso conduz imediatamente à tortura psicológica.
Em Alphin III já não se usa o antigo processo de deslocação por meio de transportes. A teletransmissão de matéria é o processo masi rápido e eficaz. As pessoas são transmitidas de planeta para planeta tal como hoje são radiofundidas as ondas sonoras.
Kim Rendell é um "criminoso" por ter descoberto uma matéira que anula o "Campo Disciplinar", desafiando assim as leis da civilização da sua época. E quando, acompanhado da rapariga que ama, resolve fugir de Alphin III, roubando do museu uma velha nave interplanetária, para tentar encontrar um oásis naquele imenso espaço onde ele e Dona possam ser livres e felizes, principía a extraordinária e fantástica aventura de lutas e viagens através dos planetas e dos sistemas solares.

Prefácio:

Para muita gente este livro poderá parecer estranho, e na verdade assim terá que ser considerado. Escrevi-o da mesma maneira que algumas pessoas se cncentram sobre problemas de xadrez, ou outras plantam e tratam de dálias, ou ainda outras coleccionam primeiras edições ou certificados de saúde do período Gótico. Escrevi este livro para meu próprio divertimento, sabendo bem o que pensarão de mim as pessoas que não gostem ou não se interessam por este género - tal como as pessoas que consideram amalucados aqueles que se dedicam a problemas de xadrez, ou têm a mania das dálias, ou ainda as que coleccionam coisas estranhas. 
Mas diverti-me bastante enquanto o escrevia. Gosto de andar à solta com ideias originais, procurando o que elas querem dizer e o que podem produzir. É uma espécie de passatempo. Um dia ocorreu-me que os seres humanos até hoje quase não adaptaram um sistema de maquinaria como elemento importante nas nossas vidas e na nossa prosperidade. Exceptuando os equipamentos militares, é um facto que os únicos mecanismos desenhados especialmente para o trabalho do governo foram as cadeiras eléctricas e as luzes do trânsito. Esses mecanismos realizam tarefas públicas, e não possuem nenhum valor privativo. Não me consigo lembrar de nenhum outro mecanismo deste género. Assim, comecei a pensar no que aconteceria se as máquinas fossem desenhadas para tomar conta dos deveres governamentais, agora executados por homens. Até hoje apenas foi eliminado o carrasco público. Mas se o governo pudesse ser efectuado por máquinas, até os impostos poderiam ser reduzidos, e a inteligência e a ambição agora desperdiçadas em outras coisas podiam ser adaptadas a outros fins mais úteis.
Esta era uma ideia bastante interessante. Alguns teriam desenvolvido uma história inteiramente diferente da minha, usando o mesmo ponto de partida, mas aconteceu que eu tinha imaginado um "Circuito Disciplinar" como uma engenhoca governamental de primeira força, e isso abriu-me a porta da imaginação. Comecei a imaginar quantas distintas - e monstruosas - formas de governo poderiam e certamente tomariam lugar se o governo não pudesse nunca sesr contestado. Depois compreendi que esse mesmo invento poderia ser uma arma, um invento para anular o efeito de outras armas, e ainda muitas coisas mais. Podeira ser o que finalmente todas as invenções são de facto - o que os homens decidem fazer delas. 
E naturalmente não deixo de pensar que qualquer forma de governo que não pode ser desafiado eliminará toda e qualquer forma de liberdade a todos menos aos criminosos condenados, e a estes dará liberdade inteira como o mais terrível dos castigos.
Outros assuntos e ideias foram saindo da minha cabeça à medida que eu ia adiantando e desenvolvendo esta história. Muitas destas ideias eram irrelevantes, mas ofereciam-me momentos na verdade interessantes, quando por exemplo tinha de encontrar uma solução teórica para a velocidade mais rápida do que a luz. Também me agucava a curiosidade especular sobre o que seriam o alimento e os cozinhados num período de Cultura verdadeiramente desenvolvida. Um máximo de industrialização até uma conclusão ilógica era também motivo para me interessar agudamente, e fiquei horrivelmente fascinado com o que seria o espectáculo de um mundo sem homens - que tantas mulheres fingem desejar - e o quena verdade aconteceria se isso sucedesse.
Em resumo, misturei e envolvi várias ideias. Não é um truque original. Grande parte da chamada ficção científica não passa disso. Eu gosto do género. Com o tempo e com o esforço dispendido nesta história - e com um raciocínio semelhante adpatado a outros assuntos - poderia ter escrito uma história policial ou um mistério chamado "O Assassino Temporário", acerca de um multimilionário excêntrico que fora assassinado por meio de uma seta quando viajava sózinho no seu avião de jacto privativo sobre as Bermudas.
Mas diverti-me imenso mais escrevendo isto.

Murray Leinster
"Ardudwy" - Gloucester Coutry - VA

2 comentários:

  1. Está cada vez melhor este seu trabalho. Obrigado.
    Álvaro Holstein

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  2. Eu é que agradeço, caro Álvaro Holstein, a sua atenção e simpatia já por diversas vezes demonstrada!

    No momento em que escrevo estas linhas vou no nº252... quase a chegar a meio!

    Grato e um abraço.

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