Autor: Maureen F. McHugh
Título original: Mission Child
1ª Edição: 1991
Publicado na Colecção Argonauta em Novembro de 2002
Capa: António Pedro
Tradução: Alexandra Rolão Tavares
1ª Edição: 1991
Publicado na Colecção Argonauta em Novembro de 2002
Capa: António Pedro
Tradução: Alexandra Rolão Tavares
Revisão: Dália Moniz
Súmula -
foi apresentada no livro nº538 da Colecção, com a indicação de "Ler nas
páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":
No dia em que me pagaram, detive-me perante a máquina e retirei o dinheiro que devia a Mika. Tive alguns problemas em descobrir onde Sissela vivia. Sabia que os edifícios tinham números, mas o difícil foi descobrir a rua.
Subi as escadas e bati à porta. Esperei que as outras portas se abrissem por causa do ruído, e não sabia o que iria dizer às pessoas se isso acontecesse. Mas ninguém abriu a porta.
Sentei-me nos degraus e tentei pensar no que fazer. Estava cansada, e uma vez que já não tinha dinheiro, também não tinha almoçado. Devia ter parado antes e comprado algo para comer. Espreitei pela grade para ver se havia algumas lojas onde pudesse haver algo para comprar, mas não consegui ver nenhuma, por isso voltei a sentar-me.
Achava que iria conseguir encontrar o caminho de regresso, mas não tinha a certeza. Podia esperar por Sissela.
Resolvi esperar. Para além de estar num local estranho, e para além de estar um pouco nervosa em relação ao que Sissela iria pensar quando me visse, esperar não era muito diferente do que quando me encontrava sozinha no meu quarto. Só que não tinha uísque.
Era já de noite quando Sissela começou a subir as escadas.
Disse algo em Taufzin.
- Olá - disse eu. - Sou uma amiga de Mika, Jan.
Ela ficou a olhar para mim nas escadas. Tinha um saco nos braços, como se tivesse acabado de vir de uma loja. - O que estás a fazer? - perguntou.
- Estou a adiar a morte - respondi eu, pois aquilo era algo que as pessoas dos clãs diziam.
Via-a sorrir na escuridão.
- Todos estamos - disse ela.
- Tenho algum dinheiro para Mika - disse eu.
- Ele disse-me que podia entrar em contacto com ele através de ti.
- Ah, sim? - disse ela. Tinha um sotaque carregado, da cidade, mas eu conseguia compreendê-la, e ela parecia estar a compreender-me bastante bem. - Entra - acrescentou.
Peguei-lhe no saco enquanto ela procurava a chave. Apercebi-me subitamente de que não tinha a chave da porta de entrada e que não iria conseguir entrar no meu próprio quarto. Teria de acordar alguém. Ela ligou as luzes e o quarto estava praticamente na mesma confusão que da última vez que lá estivera.
- O Mika é maluco - disse ela.
Acenei afirmativamente e coloquei o saco em cima da mesa.
- Vou investigar e ver se consigo mandar-lhe uma mensagem a dizer que tens dinheiro para ele. - Mergulhou a mão no saco e começou a arrumar as coisas nos armários. - Queres uma cerveja?
- Não, obrigado - disse eu.
- Não precisas de utilizar as maneiras do clã comigo - disse ela. - Bebe uma cerveja.
O meu estômago estava de tal forma vazio que a cerveja iria provavelmente fazer-me ficar mal disposta, mas aceitei beber uma.
- Sabes onde é que posso encontrar um xamã? - perguntei. - Um homem que fale com os espíritos?
Isso fez com que ela se detivesse. Voltou-se após ter guardado uma caixa e olhou para mim.
- Um homem que fale com os espíritos? Para quê?
- Tenho de fazer algo em relação a um fantasma.
Isso fez com que ela sorrisse, embora o tentasse ocultar. Não sei qual era a piada.
- É o fantasma da minha filha morta - disse eu. Os homens também têm filhas. - Penso que devo ter feito algo para a prender.
- Oh, céus - disse ela com suavidade, e sentou-se.
- Ela morreu sem um nome, porque era muito jovem, compreendes? Mas já tinha idade suficiente. Foi difícil decidir se ela deveria ter um nome ou não. E mais tarde, no campo de refugiados, numa, hum, cerimónia, o seu fantasma veio ter comigo e exigiu que soubesse que o seu nome era Rahel. Por isso, deu um lugar ao seu fantasma. - As palavras saíam-me às catadupas. Aquela mulher da cidade não devia possivelmente conhecer fosse o que fosse sobre os espíritos e provavelmente nem sabia do que eu estava a falar. - É difícil de explicar - disse eu, desajeitadamente. - De qualquer maneira, no local onde trabalho, ando a ter lições de inglês e as lições de inglês são com um "interactivo". Sabes ao que me refiro?
Ela acenou afirmativamente.
- De qualquer forma, o "interactivo" é uma mulher e pediu-me que lhe desse um nome e eu não estava a pensar. Nunca tinha ouvido falar de "interactivos", e acho que estava a pensar numa espécie de espírito de uma máquina, sabes? Não um espírito verdadeiro, mas, sim em algo que era real e não era real. Por isso dei-lhe o nome da minha filha. Agora estou com medo que a minha filha fique presa na máquina.
- És casada? - perguntou Sissela.
- Agora já não - disse eu. O meu clã morreu todo. Fui o único que sobrou, creio. Talvez mais dois outros.
- Oh, lamento muito. - disse ela. - Hum, eu não sei muita coisa sobre os homens dos espíritos. Mas posso perguntar. Se ouvir falar de alguém, mando-te uma mensagem, através de Mika.
- Obrigado - disse eu.
Fez-se silêncio, então. As palavras frias sobre a morte nada mais deixam do que o silêncio.
- O teu cabelo está a ficar muito grande - disse Sissela. - Posso cortar-to.
- Não - disse eu. - Não faz mal.
- Não, a sério - disse ela. - Gostaria de o fazer.
Avançou então, pegou numa toalha e colocou-a sobre os meus ombros. A cerveja estava a tornar-me tonta, mas não estava mal disposta. Estava a começar a ficar com um pouco de frio, e a toalha soube-me bem. Uma traça bateu repetidas vezes na lâmpada da cozinha, e ela cortou-me o cabelo. Os seus dedos sabiam exactamente onde deviam ir, não o faziam experimentalmente quando me tocavam. Ela contou-me o que fazia para ganhar dinheiro. Cortava cabelo, lavava o cabelo das pessoas, e fazia penteados elaborados que as pessoas da cidade gostavam.
A luz da cozinha era amarela e quente.
Quanto terminou, agradeci-lhe. Era, disse-lhe, a coisa mais amável que alguém jamais tinha feito por mim havia muito tempo. Estávamos ambas com receio de chorar, mas não o fizemos.
O planeta onde habitava a jovem Janna, do clã Hamra, fora há muito tempo atrás colonizado por gente oriunda da Terra, mas depois tinha sido abandonado a si próprio. Agora os colonizadores regressam, e a sua tecnologia, bem superior à dos nativos, vem alterar por completo o equilíbrio daquela civilização em desenvolvimento.
ResponderEliminar«Renascer» é a história da longa viagem empreendida por Janna, depois de a sua terra natal ter sido atacada por um nado armado em busca de pilhagem. Através de uma desolada paisagem àrtica, a sua fuga levá-la-à a uma cidade, cuja vida não compreende. De caminho, será confundida com um rapaz e, pensando que esse disfarce de algum modo a protege, decide conservar essa aparência.
A jovem, que rapidamente amadurece muito para além do que seria de esperar de alguém da sua idade, vai atravessar todo o planeta, numa odisseia de aventura, guerra, trabalho árduo, fome e renascimento.