nº 39 - Estrela Dupla


Autor: Robert Heinlein
Título original: Double Star
1ª Edição: 1955
Publicado na Colecção Argonauta em 1957
Capa: Lima de Freitas
Tradução: H. dos Santos Carvalho

Súmula - foi apresentada no livro nº38 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta:

Se um homem entra, vestido como um vagabundo, e agindo como se fosse o dono da casa, é com certeza um astronauta. É uma necessidade lógica. A profissão fá-los sentir donos da Criação inteira; quando pousa o pé nesta imundíce, é como se estivesse a fazer a roda dos pobres entre os aldeões. No que respeita à sua conhecida deselegância, não se pode esperar que um homem que passa nove décimas partes do seu tempo em uniforme e está mais habituado ao espaço profundo do que à civilização, saiba como vestir-se decentemente. É uma vítima dos pseudo-alfaiates que enxameiam em redor de todos os espaçoportos, apregoando: - Vestuários de terra.
Eu podia facilmente ver que esta grande carga de ossos tinha sido vestida por Omar, o Mercador - para começar, uns enchumaços demasiado grandes nos ombros, uns calções cortados de tal maneira que cada vez que ele se sentava, lhe deixavam à mostra as coxas cobertas de pêlos, uma camisa amarrotada que talvez tivesse ficado bem a uma vaca. 
Mas guardei a minha opinião para mim mesmo, e paguei-lhe uma bebida com o meu último meio Imperial, considerando isto um emprego de capital, sendo os astronautas como são no que diz respeito ao dinheiro. - "Jactos ardentes" - disse eu tocando no seu copo. Deitou-me uma rápida olhadela. Este foi o meu primeiro erro no meu trato com Dak Broadbent. Em vez de me responder "Espaço livre" - ou - "Aterrisagem segura"  - como devia ter feito, olhou-me e disse-me brandamente: "Um belo brinde, mas engana-se no homem. Nunca estive fora.
Era outra bela ocasião para fechar o bico. Astronautas não costumam vir ao bar da Casa Manana, não é o género de hotel para eles, e está a quilómetros do espaçoporto. Quando um deles se mostra em vestuários terrenos, procura um canto escuro num bar e não quer que digam que é um astronauta, isso é lá com ele. eu próprio tinha arranjado aquele cantinho para poder ver sem ser visto - devia nessa ocasião uns dinheiros por aqui e por ali, nada de importância mas um pouco aborrecido. Devia ter compreendido que ele também teria as suas razões, e respeitá-las. Mas as minhas cordas vocais viviam a sua vida pessoal, selvagem e livre. "Deixe-se de lérias, colega" - repliquei - "Se você é uma minhoca da Terra, eu sou o Governador Civil de Tycho City. Ia apostar que você já bebeu mais copos em Marte" - acrescentei, ao ver a maneira cautelosa como ele levantava o copo, indício seguríssimo dos hábitos de baixa gravidade - "que na Terra". "Fale baixo" - interrompeu ele sem mover os lábios - "O que é que o faz estar seguro que eu sou um voyageur? Você não me conhece". "Desculpe" - disse eu - "Você pode ser aquilo que lhe apetecer. Mas eu tenho olhos. Você denunciou-se no momento em que aqui entrou". - Ele disse qualquer coisa entre os dentes - "E como?" - "Não se apoquente com isso. Duvido que seja quem for tenha dado por isso. Mas é que eu vejo coisas que outras pessoas não podem ver". - Dei-lhe o meu cartão de visita, talvez um bocado presunçosamente. - "Só há um Lorenzo Smythe, o Homem-Companhia de Teatro. Sim, eu sou o Grande Lorenzo - Estéreo, ópera gravada, clássicos - Extraordinário Artista de Pantomina e Bufonaria".

Lorenzo Smythe, aliás Lorenzo Smith, não podia saber a estranha actuação profissional que começava naquele momento. Aquele encontro num bar, com um desconhecido, ia resultar para Smythe no mais extraordinário, o mais importante, se bem que o mais perigoso papel que respresentara na sua carreira profissional.
Lorenzo não o podia saber. Estando desempregado, sem casa, estava disposto a aceitar tudo o que se lhe deparasse - tudo o que fosse honesto e profissional, claro, como ele se repetia a si próprio. Mas o que ele não podia supôr era que daquele encontro resultaria como consequência imediata a sua participação num triplo assassinato, que seria raptado e levado para Marte - ele que não podia tolerar a presença de marcianos, que lhe davam náuseas. E não sonhava também que ia ser envolvido numa história de rapto político, em que poderosos interesses estavam em jogo. E Lorenzo Smythe, encontrou-se envolvido na mais fantástica luta política do século, contra misteriosos inimigos sem escrúpulos, decididos a usar todos os meios apra alcançar os seus fins: a direcção do Império Galáctico.
Como poderia Lorenzo, que nunca se metera em políticas - como ele dizia - levar a cabo a sua tarefa: combater e vencer esses poderosos inimigos? Em primeiro lugar, ele fora contratado para um simples trabalho artístico: dobrar uma estrela do firmamento político, John Joseph Bonforte, o homem mais amado e mais odiado de todo o Sistema Solar, raptado pelos seus adversários. Mas o pior quando se tem uma gata, é que ela tem gatinhos... E Lorenzo Smythe, o actor, encontrou-se adoptado pelo Ninho Kkkah, em Marte, tornando-se assim cidadão marciano, com todas as prerrogativas e deveres que isso comportava. Depois, após uma viagem atormentada, em queda livre em pleno espaço, Lorenzo é recebido pelo próprio Imperador, e obrigado a formar governo, devido aos princípios constitucionais que regiam o Império. Vivendo em New Batávia, na Lua, a capital Imperial, Lorenzo é posto diante da necessidade de tomar a decisão mais importante da sua vida, uma decisão que tinha importância para oito biliões de seres...
"Estrela Dupla", o novo romance de Robert A. Heinlein que a Colecção Argonauta agora traz a público, é a fascinante história de um actor desconhecido que, a mercê das circunstâncias, chega a ocupar a mais elevada posição do Império: Supremo Ministro de Sua Magestade Imperial Willem, Príncipe de Orange, Duque de Nassau, Grão Duque do Luxemburgo, Cavaleiro da Comenda do Santo Império Romano, Almirante General das Forças Imperiais, Conselheiro dos Ninhos Marcianos, Protector dos Pobres e, Pela Graça de Deus, Rei das Terras Baixas e Imperador dos Planetas e dos Espaços Intermédios.
Robert A. Heinlein, cientista, engenheiro, antigo oficial da marinha, viajante, autor de argumentos cinematográficos, novelista e crítico, é um dos mais fecundos e considerados escritores de ficção científica dos Estados Unidos. "Estrela Dupla" é um romance de trama imaginosa e extraordinariamente bem urdida, com um desenho de persongens que coloca o seu autor à altura de um dos mestres da escola americana de ficção-científica. Estilo quente, um apurado sentido de humor, um romance que prende e não desilude até ao seu inesperado desfecho.

Sem comentários:

Enviar um comentário