Autor: Clifford D. Simak
Título original: Project Pope
1ª Edição: 1981
Publicado na Colecção Argonauta em 1983
Capa: A. Pedro
Tradução: Eurico da Fonseca
Súmula - Foi apresentada no livro
nº310 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula
do próximo volume da Colecção Argonauta":
Mais uma obra de Cllifford D. Simak... e uma obra invulgar, como sempre: um tema inesperado, incrível.
No planeta da Periferia, apropriadamente denominado O Fim do Nada, uma estranha sociedade de autómatos e homens trabalha há mil anos para aperfeiçoar uma religião que possa criar uma fé nova e universal - o que não é de modo algum uma novidade numa galáxia pejada de religiões. Mas um projecto é ocultado às hordas de peregrinos acolhidos em Vaticano 17, no Fim do Nada. Um grupo de sensitivos humanos está a enviar os seus espíritos através do tempo e do espaço, colhendo toda a informação que pode existir. Com essa informação, um computador de conhecimento, saber e infabilidade, está a ser construído em segredo: o Papa supremo.
Dos três estrangeiros que têm permissão de residir no Fim do Nada, um é tolerado à distância pelo Vaticano 17, o outro é bem-vindo - e outro é uma ameaça a combater.
Decker mal conta. O seu salva-vidas deixou-o nesse planeta remoto e ele manteve-se no mato. Nem as autoridades humanas nem os autómatos sabem que ele tem um companheiro invisível que murmura constantemente no seu cérebro.
O Dr. Jason Tennyson fugiu às fúrias políticas do seu mundo natal. Como o médico de Vaticano 17 tinha morrido, os conhecimentos de Tennyson são desesperadamente necessários e bem recompensados.
Jill Roberts é uma jornalista em busca de uma história sensacional, por ela farejada. O Vaticano 17 não quer que ela dê a notícia do Projecto Papa antes de ele estar terminado... e debate duas maneiras de a deter.
Então um sensitivo lança o Vaticano 17 num tumulto, ameaçando a sua própria existência e envolvendo os outros estrangeiros numa súbita luta pelo poder entre os homens e os autómatos.
Penetrando em dimensões insuspeitadas, o sensitivo descobrira... o Céu!
Eis como principia esta estranha e empolgante aventura:
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Jason Tennyson, fugindo para escapar com vida, chegou à cordilheira cheia de precipícios que ficava a oeste de Gutshot. Avistou imediatamente as luzes da vila, premiu o botão de ejecção e sentiu-se lançado para cima com uma violência maior do que esperara. Durante um momento, ficou envolvido pelas trevas; depois, quando o seu corpo girou, viu de novo as luzes da vila e pensou que vira também o aparelho. Mas o facto de ver ou não o aparelho era de menos importância. Ele continuaria a voar sobre Gutshot, desviando um pouco para baixo, para o oceano que vinha atè à pequena vila e ao espaço-porto, no sopé das altas montanhas, a uns oitenta quilómetros, no mar, se os seus cálculos estavam correctos, o aparelho entraria pela água e perder-se-ia. Segundo ele esperava, o Dr. Jason Tennyson, antigo médico da corte do margrave de Daventry, seria também dado por perdido. O radar da base de Gutshot assinalara por certo o aparelho e segui-lo-ia enquanto ele voasse sobre a água, mas a baixa altitude faria com que o contacto fosse perdido bem depressa.
A queda estava a afrouxar e subitamente, quando o pára-quedas se abriu por completo, ele sentiu-se lançado para o lado e começou a balouçar em grandes arcos. Uma corrente ascensional pegou no pára-quedas, fazendo-o voltar para os altos picos e tornando mais lento o balanço, mas não tardou que ele saísse da corrente e começasse a descer, flutuando suavemente. Tennyson, balançando na ponta dos cabos, tentou ver onde iria pousar; parecia ser para as bandas do extremo sul do espaçoporto. Suspendeu a respiração e fez votos para que tudo corresse pelo melhor. Passou o braço pelas correias e agarrou a mala de médico com força contra o peito. Fez uma prece: que tudo corra bem, que tudo continue bem. Até então tudo correra surpreendentemente bem. Durante todo o percurso, mantivera o aparelho a baixa altitude, passando como um foguete através da noite, descrevendo largos círculos para evitar os domínios feudais onde os radares deviam estar a vasculhar os céus, porque naquele mundo de feudos em conflito havia sempre que manter uma vigilância estreita. Ninguém sabia de que lado e em que momento poderia surgir um ataque.
Olhando para baixo, tentou avaliar a que distância estaria a terra firme, mas as trevas tornaram isso impossível. Sentiu-se tenso, e depois, conscientemente, decidiu acalmar-se. Quando chegasse ao chão tinha de ter os músculos distendidos.
O agrupamento de luzes que assinalava a vila estava a uma certa distância, no norte; a mancha resplandescente que era o espaçoporto estava quase em frente. Algo negro interpôs-se e tapou as luzes do espaço-porto e ele bateu no chão, dobrando os joelhos. Atirou-se para um lado, ainda agarrado à mala. O pára-quedas abateu-se e ele pôs-se de pé, puxando os cabos.
Viu que descera perto de um grupo de grandes armazéns, no extremo sul do espaço-porto. Fora a massa dos edifícios que ocultara as luzes. A sorte estivera do seu lado. Mesmo que tivesse planeado aquilo, não poderia encontrar um sítio melhor.
Os seus olhos estavam agora a habituar-se às luzes. Viu que se encontrava perto de um beco entre dois armazéns. Viu também que os armazéns estavam colocados sobre estacas: havia uns trinta centímetros entre o pavimento e o solo. Podia esconder ali o pára-quedas. Poderia enrolá-lo e empurrá-lo tanto para o fundo quanto os seus braços alcançassem. Se encontrasse um pau qualquer ainda poderia empurrar mais. Mas tudo quanto precisava era empurrá-lo o bastante para não ser visto por um transeunte. Isso poupar-lhe-ia muito tempo. Receara ter de abrir uma cova ou procurar um maciço de árvores onde escondesse o pára-quedas. Tudo quanto precisava era de que ele não fosse encontrado durante alguns dias; ali, debaixo do armazém, podia não ser descoberto durante anos.
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