nº 283 - O Dia em que o Tempo Parou



Autor: Philip José Farmer
Título original: The Day of Timestop
1ª Edição: 1960
Publicado na Colecção Argonauta em 1981
Capa: A. Pedro
Tradução: Eurico da Fonseca 

Súmula - Foi apresentada no livro nº282 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

Philip José Farmer é um dos grandes autores de ficção-científica dos tempos actuais. Controverso por vezes, mas sempre brilhante, a ele se deve, entre outras obras célebres, a surpreendente série Riverworld, que a Colecção Argonauta tem vindo a  publicar.
O Dia em Que o Tempo Parou (na versão original The Day of Timestop) é uma obra invulgar. Referindo-se a ela, Sam Moskowitz disse tratar-se de "uma história vibrante, de espionagem, situada no futuro e comparável a 1984". Sem dúvida, um tema estranho, mas composto numa história como só Philip José Farmer sabe contar:

O Dr. Leif Barker amaldiçoava o "Corpo da Guerra Fria" e a sua ideia de "células", onde um homem não fazia a mínima ideia do seu plano geral e trabalhava no escuro para apenas cumprir a sua missão particular. Ali estava ele, um coronel do CGF da República de March, originador da conspiração que provavelmente enviaria a União de Haijac para o reino do esquecimento. E no entanto, não lhe era permitido conhecer mais do que uma centelha do mecanismo da sua própria campanha!
Era o preço que tinha que pagar por trabalhar no meio do inimigo. Se ele permitisse que os superiores o pusessem atrás de uma secretária em Marsey, poderia observar a guerra no seu todo; seria ele quem a dirigiria. Mas insistira em trabalhar em Paris, que era onde se centrava o perigo.
Esses pensamentos vagueavam pelo seu espírito, enquanto passava as mãos pela carne daquela mulher, outrora firme e vibrante. Os raios X tinham-lhe indicado qualquer coisa muito estranha; qualquer coisa que podia estar ou não ligada com o "Projecto Traça e Ferrugem". Fosse como fosse, queria descobrir o que eram os estranhos objectos detectados no corpo de Halla Dannto.
E tinha de trabalhar depressa - "antes que o tempo parasse"... Eis algumas páginas da obra empolgante de Farmer.  
O Doutor Leif Barker puxou a mulher para junto de si. Ela não resistiu; fora até junto dele para resistir. Até àquele ponto, não. A verdadeira intenção dela, como ele sabia, era ceder até ali e depois gritar para que os homens que por certo estavam à espera perto pudessem entrar de rompante e prendê-lo. Ou tentar prendê-lo.
A mulher olhou para cima, para ele, os lábios pintados meio abertos. Perguntou: - Pensa que isto é real?
- É um facto - respondeu Leaf e depois os seus lábios fecharam-se sobre os dela. Ela respondeu com loucura - com uma loucura demasiada, pois ele sabia que ela estava a representar. A representar de mais ou não? Talvez ela estivesse a gostar mais do trabalho do que aquilo que desejava que os superiores soubessem.
Ele levantou a mão direira. Antes que ela soubesse o que ele estava a fazer, ele pegou na gola de folhos e arrancou-lhe as costas do vestido.
Os olhos dela esbugalharam-se e tentou fugir-lhe, para dizer qualquer coisa, mas ele manteve a boca contra a dela. Antes que ela pudesse mover-se, foi despida até à cintura. Depois largou-a, mas a sua mão direita manteve-se aberta, pronta a bater de quina contra o lado do pescoço dela, se ela tentasse gritar.
No entanto ela parecia aturdida pela rapidez com que a sedução estava a acontecer. E talvez ela não estivesse naquele negócio havia tanto tempo que conseguisse ter uma atitude cínica para com um portador de "lamech". Talvez o seu condicionamento ainda se mantivesse, dizendo-lhe que um homem na posição de Leif Barker era irrepreensível. Talvez fosse isso. 
O que quer que fosse que ela pensasse, a verdade é que ela era adorável. Quem quer que a tivesse enviado, escolhera uma mulher que tornaria difícil qualquer resistência. Era uma loura alta e esbelta com o corpo de uma mulher bem formada, mas com um rosto que dava a ideia de que ela era uma criança inocente. Uma criança apaixonada, sim, exposta como estava agora, com os seios grandes e firmes a roubarem-lhe a aparência imatura e a tornar mais fácil a Leif aquilo que ele pretendia fazer.
As mãos dela estavam caídas, mas quando ela viu o olhar dele fixo sobre os seios, levantou as mãos para os tapar. Ele riu-se.
- O que é isso? Decidiste agora que não me querias para teu amante? Que nem sempre me admiraste de longe e que foi um erro vires aqui e ofereceres-te a mim? Que decidiste não ires contra os mandamentos da Sigreja?
- Não - respondeu ela numa voz trémula. - Acontece apenas que eu... não esperava que... que...
- Que as coisas se acelerassem tanto que no fim tudo podia estar acabado antes de os teus amigos entrarem por aí? - perguntou ele, sempre a sorrir-se.
Ela ficou pálida. Abriu a boca para dizer alguma coisa mas a garganta paralisada recusou-se a permitir que as palavras saíssem.
- É um sinal dos tempos - notou ele.
- Que sinal? - conseguiu ela perguntar, por fim.
Em tempos, um homem que usava o "lamech" - disse ele, tocando o grande "L" hebreu, dourado, que suava pregado no peitilho da camisa - estava acima de todas as tentações. Uma vez que estava acima das tentações, estava acima de todas as suspeitas. Não havia tentativas dos Uzzitas para o levar a provar que a sua conduta era baseada na realidade, tentando seduzi-lo com imoralidades. Mas estes tempos são degenerados e agora nenhum homem está acima da suspeita.
Parou e depois acrescentou, numa voz rouca: - Diz-me uma coisa: foi Candleman que te enviou?
Ela pestanejou; ele soube que acertara em cheio. Portanto - não eram os seus próprios superiores no Corpo da Guerra Fria que o estavam a pôr à prova. Era uma armadilha de Candleman, o chefe dos Uzzitas, a Polícia Secreta da União Haijac.
- Quantos homens estão à espera? - perguntou ele?
Ela não respondeu, e ele pegou-lhe nas mãos e afastou-as com dureza, deixando-lhe os seios a descoberto. Ela virou a cabeça para não olhar para ele, e a palidez da sua pele foi substituída por um rubor que subia das coxas.
- Não queres dizer-me? - perguntou ele, - não importa. Olha!
Largou-a e dirigiu-se à parede. Premiu uma parte dela. Instantâneamente, um quadrado por cima da sua mão iluminou-se e tornou-se num visor, mostrando o interior da sala de espera, naquele último andar. Três homens estavam estendidos, inconscientes, no chão. Envergavam os uniformes negros dos Uzzitas.
- Como portador do "lamech" tenho muitos privilégios - observou ele. - Um deles é o direito de tomar precauções contra a violação da minha pessoa.

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