nº 108 - A Cidade Fantástica



Autor: Ray Bradbury
Título original: Dandelion Wine
1ª Edição: 1957
Publicado na Colecção Argonauta em 1966
Capa: Lima de Freitas
Tradução: Jorge Rosa

Súmula - foi apresentada no livro nº107 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

No seu estilo vigoroso e poético, reminiscente de Caldwell e Steinbeck, Ray Bradbury dá-nos em traços sóbrios o retrato de uma pequena cidade perdida na planura escaldante do Illinois, nos anos vinte. Através de uma galeria de personagens típicas de recorte magistral, revela o que de fantástico alberga em cada alma humana, em cada comunidade, desde que se tenha bem apurada a faculdade cada vez mais rara de ver para além do aspecto exterior, comezinho, das coisas. Um aglomerado banal surge-nos assim como um caleidoscópio fascinante de destinos humanos, interactuando no enquadramento físico da pradaria deserta, coberta de erva calcinada pelo Sol ardente. O sentimento de solidão e mistério é, por vezes, esmagador. Dois garotos, os irmãos Tom e Douglas Spaulding, servem de traço de união entre episódios sem qualquer relação entre si, que eles comentam e em que intervêm. Oscilando entre o trágico e o cómico, ora sério, ora faceto, mas sempre profundo e absorvente, Ray Bradbury vai traçando em pinceladas seguras, de notável fidelidade psicológica, um quadro inolvidável da epopeia do quotidiano, com as suas grandezas e misérias, num contraponto constante entre o sonho e a realidade. Leo Auffmann e a máquina da felicidade, o Corolnel Freeleigh e a sua nostalgia da juventude irremediávelmente perdida, as irmãs Fern e Roberta e a sua máquina verde, a tocante despedida de John Huff e Douglas Spalding, Elmira Brown e a sua magia negra, o extraordinário episódio de amor entre Helen Loomis e Bill Forrester, Lavinia e o Solitário, a boneca de cera que predizia o futuro, o ferro-velho e a sua milagrossa faculdade de curar, e, como uma constante sinistra, a presença ameaçadora da ravina - nestes e noutros episódios Ray Bradbury afirma-se como um escritor de garra, em que a sobriedade corre parelhas com um estilo altamente  poético e acentua a sua visão subtil e profunda da vida.
Depois de obras como Fahrenheit 451, O Homem Ilustrado, O Mundo Marciano, Os Frutos Dourados do Sol, As Máquinas da Alegria, (todas elas incorporadas na Colecção Argonauta da editorial "Livros do Brasil", é uma honra poder apresentar mais um romance - um romance do "estranho" e do "fantástico" -, que é, ao mesmo tempo, um poema extraordinário desse grande escritor da Ficção-Científica chamado Ray Bradbury.

Nota do Editor:

Pareceu indispensável ao Editor português de Ray Bradbury antepôr uma breve nota a este romance estranho, e a mais de um título perturbante, deste grande escritor de Ficção-Científica. Estanho e perturbante não só pelo clima, a um tempo real e maravilhoso que Ray Bradbury soube criar, com mestria consumada, nas páginas densas e arrebatadoras de A Cidade Fantástica, como também porque este romance pode porventura despertar no leitor algumas interrogações pertinentes sobre a índolo autêntica desta obra.
É a esse propósito que gostaríamos de nos deter, em franca e despretensiosa palestra. sobre alguns problemas referentes à difícil definição deste novo género literário.
Digamos desde já, que as fronteiras da Ficção-Científica não se encontram delimitadas com rigorosa precisão. De resto, talvez não haja nenhum género literário cujos limites se encontrem codificados para todo o sempre. Todas as pretensões realizadas nste sentido acabam por desvanecer-se perante o génio. Os escritores dotados de espírito criador poderoso e forte - e são esses que marcam os momentos culminantes da História Literária - não raro se não eximiram à tarefa de estilhaçar tranquilamente os moldes canónicos que lhes aprisionavam a imaginação.
O mesmo sucede no campo da Ficção-Científica e desse facto é Ray Bradbury um dos exemplos mais assinalados. A Ficção-Científica não se caracteriza, se não estamos em erro, nem pela antecipação nem pelo facto de a acção - quando existe - se desenrolar em planetas diferentes da Terra ou em zonas do Universo que se não confinam às nossas dimensões de seres terrestres. Tão pouco se caracteriza pelo tipo de episódios e de heróis que habitualmente, e de forma predominante, povoam as criações dos seus cultores. Além desse tipo de obras, aliás devidamente representadas na Colecção Argonauta, na qual têm  por igual o seu devido lugar, há obras lídimamente de Ficção-Científica que, representando uma incursão no reino do possível, do ainda não-realizado, podem com justos motivos incluir-se neste novo género literário.
Estão nesse caso os livros mais recentes de Ray Bradbury, o escritor a quem já se chamou "o Poeta da ficção-científica". Pelo que respeita à Cidade Fantástica, parece ter sido preocupação essencial do seu Autor o mostrar até que ponto o real quotidiano esconde o maravilhoso e o  possível, até que ponto a imaginação e a sensibilidade podem revelar o fantástico existente, sem disso nos apercebermos, na nossa experiência quotidiana. Foi desse ângulo que, por nossa parte, lemos A Cidade Fantástica e decidimos da sua inclusão na Colecção Argonauta, certos de que a sua publicação viria contribuir para o conhecimento mais profundo de uma das suas linhas dominantes. Além disso, como seria possível ficarmos insensíveis à beleza de um estilo cujo valor se impõe a qualquer leitura, de um estilo que é dos mais puros e da mais rara beleza entre os mais belos e mais puros da Literatura Contemporânea?
Os caminhos da Ficção-Científica são vários e diversos. Esforçamo-nos por que todos eles tenham na Argonauta o seu lugar: desde o romance de acção e aventura nos astros ignotos, em sistemas desconhecidos, até aos romances-previsão, aos romances-problemas, e também aos livros de Ficção-Científica poética, como são os de Ray Bradbury, e entre os quais avulta A Cidade Fantástica, que temos a honra e o prazer de apresentar. 

Nota: uma obra fantástica do Poeta da ficção-cientifica... e uma capa lindíssima, na minha opinião!

1 comentário:

  1. Quando li este livro de Bradbury, eu tinha uns 14 anos, fiquei absolutamente encantado. Foi uma das leituras de juventude mais saborosas que tive. Embora tivesse achado que não era bem ficção-científica.... rsrsrs

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