nº 362 - O Planeta Fantasma




Autor: Bob Shaw
Título original: A Wreath of Stars
1ª Edição: 1976
Publicado na Colecção Argonauta em 1987
Capa: A. Pedro
Tradução: Eurico da Fonseca

Súmula - Foi apresentada no livro nº361 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

Eis um pequeno excerto desta magnífica obra:

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Como antes, sair debaixo da terra para a pura luz-pastel de um novo dia teve o efeito de aliviar a pressão na mente de Snook, levando-o a pôr uma distância entre ele e os avernianos. 
Encheu os pulmões com ar semeado de sol e sentiu o seu corpo recuperar da estranha perda de tónus muscular, pós-coital na sua essência, que se seguira ao seu encontro com o alienígena. O mundo, o seu mundo, parecia reconfortantemente seguro e imutável, e era quase possível pôr de parte a ideia de que dentro de seis horas outro mundo viria à luz.
Disse a si próprio que era errado pensar em Avernus e no seu povo para virem à luz, porque para eles o sol amarelo da Terra não existia. Em Avernus continuaria a existir o mesmo tecto de nuvens, tão espesso que o dia era apenas um alívio geral das trevas superiores. Era um mundo aquoso e nebuloso - um mundo cego - com as suas habitações de telhados muito inclinados e quase negros, agarrados como moluscos à cadeia de ilhas equatoriais.
A visão apareceu na mente de Snook com uma tal clareza que ele soube nesse mesmo momento que ela viera de Felleth. Era uma imagem residual, os vestígios de uma estranha comunhão entre espíritos que por um momento ligara dois universos, duas realidades. Parou, perguntando a si próprio até que ponto o conhecimento de Avernus fora implantado nele durante aquele momento de suprema intimidade, e quanta informação ele cedera em troca.
- Então, Gil? - perguntou Ambrose, olhando Snook com a preocupação de um proprietário.
- Estou bem. - O desejo de fugir a ser usado como um animal de laboratório levou Snook a calar-se quanto à sua nova descoberta. 
- Pareces um pouco... pensativo.
- Pensava que no universo averniano. Provaste que há um sol de antineutrinos dentro do nosso Sol - isso significará que acontece o mesmo nas outras estrelas da galáxia?
- Não há dados suficientes que permitam sequer dar um palpite. Há uma coisa chamada Princípio da Mediocridade que afirma que as condições locais do nosso Sistema Solar devem ser consideradas como universais e que, como há um sol anti-neutrino congruente como o Sol, as outras estrelas na galáxia provavelmente também os têm. É só um princípio, no entanto, e não tenho ideia do qual possa ser a densidade da matéria no universo averniano. Tanto quando sei, pode haver somente um punhado dos seus sóis espalhados pela nossa galáxia.
- Apenas o bastante para uma coroa.
- Uma coroa? - Ambrose pareceu intrigado.
- Os avernianos vão morrer, não vão?
Ambrose baixou a voz, num aviso:
- Não te metas nisso, Gil - criarás problemas.
A ironia de ouvir o credo de toda a sua vida dos lábios de um estranho - e as circunstâncias que tinham tão bem demonstrado o seu valor - agradaram a Snook. Soltou uma gargalhada seca, fingiu não notar o ar preocupado de Ambrose e dirigiu-se ao portão. Como esperava, dois jipes estavam estacionados junto há casa da guarda, mas houvera uma mudança no pessoal e o grupo passou sem qualquer reacção. Quando estavam quase fora da vista, dobrando uma esquina, uma garrafa vazia estilhaçou-se na terra atrás deles, enviando fragmentos a saltitar pela poeira como insectos vítreos. Um soldado num dos jipes soltou um ladrido escarninho, de hiena.
- Não te preocupes. Estou a tomar nota de todos estes incidentes - disse Ambrose. - Alguns destes gorilas vão ter pena de si próprios. 
Saíram. Murphy teve a conversa obrigatória com os guardas e voltou à esquerda para a ligeira rampa que levava à casinha de Snook. Os edifícios de madeira e os armazéns da pequena povoação mineira estavam enganadoramente silenciosos e havia demasiados homens sentados nas esquinas. Alguns deles saudaram Snook e Murphy quando o grupo passou, mas a própria animação com que o fizeram era um sinal da tensão que se acumulava no ar.
Snook colocou-se ao lado de Murphy e observou:
- Estou surpreendido por tanta gente ainda se encontrar aqui.
- Não têm muito por onde escolher - respondeu Murphy. - Os Leopardos estão a patrulhar todas as saídas.
Snook avançou para a casinha, de chave na mão, mas a porta da frente abriu-se antes que ele a pudesse alcançar e Prudence saiu, fria, elegante, e inumanamente perfeita. Usava uma miniblusa agarrada por um nó no tecido, murmurou qualquer coisa ao passar por Snook - num movimento de seios suspensos de seda, cabelos louros e perfume dispendioso - e foi ao encontro de Ambrose. Snook observou-os, ciumento, enquanto se beijavam, mantendo o rosto impassível, e decidiu não fazer qualquer comentário.
- Que reunião tocante - ouviu-se ele a dizer, tendo mandado à fava as reservas intelectuais. - Estivemos longe cerca de duas horas inteirinhas. - O único efeito discernível das suas palavras foi o de Prudence parecer encostar-se mais ao alto arcabouço de Ambrose. 
- Tenho-me sentido só e tenho fome - murmurou ela a Ambrose. - Vamos tomar o pequeno-almoço ao hotel.
Ambrose mostrou-se embaraçado:
- Estava a pensar ficar aqui, Prue. Há muito trabalho a fazer.
- Não o podes fazer no hotel?
- Não, a menos que Gil também vá. Agora ele é a estrela do espectáculo.
- Verdade? - Prudence lançou um olhar incrédulo a Snook. - Bom, talvez...
- Não sonharia entrar no Kisumu com este aspecto - disse ele tocando nos cabelos negros cortados à escovinha. Murphy, Quig e Culver trocaram sorrisos. 
- Podemos comer depois - propôs Ambrose apressadamente, arrastando Prudence para casa. A domesticidade acolhedora daquele lugar tornava o mundo cinzento e sem esperança de Avernus afastar-se um tanto dos seus pensamentos. Levou uma chávena de café para a sala onde os outros discutiam o sucesso da experiência. Culver e Quig estavam estendidos em cadeirões, em extravagantes posturas de repouso, falando dos métodos de análise dos poucos sons de origem averniana que tinham gravado. Murphy estava a uma janela, a mastigar pensativamente e a olhar para a mina.
- Temos café ou gin. - anunciou Snook. - Sirvam-se.
- Para mim, nada - respondeu Ambrose. - Há tanto a fazer aqui que não sei por onde começar, mas tratemos de passar a gravação de Gil. - Tirou do pulso o pequeno gravador, ajustou os comandos e ligou a pequena máquina ao amplificador.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Sem comentários:

Enviar um comentário