nº 145 - Bomba-H Sobre Los Angeles



Autor: Robert Moore Williams
Título original: The Day They H-Bombed Los Angeles
1ª Edição: 1961
Publicado na Colecção Argonauta em 1969
Capa: Lima de Freitas
Tradução: Eurico da Fonseca

Súmula - foi apresentada no livro nº144 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

É um dos romances mais empolgantes esta obra de ficção-científica, que a Colecção Argonauta tem a honra de apresentar, trazendo até nós, pela primeira vez, o nome de Robert. Moore Williams.
Seguidamente, inserimos um trecho dessas páginas emocionantes do grande escritor norte-americano:

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Para a área da baía de Los Angeles, o dia fora absolutamente normal - pelo menos era o que Tom Watkins pensava quando entrou com o seu carrinho de desporto num parque de estacionamento e esperou que o guarda lhe desse a respectiva senha. O tráfego não parecia tão denso como era habitual; talvez houvesse menos pessoas nas ruas. Estranhos boatos sobre qualquer perigo mortal na baía circulavam havia meses, e tinham dado motivo a que dezenas de milhares de pessoas assustadas houvessem deixado aquela zona. Mas as coisas pareciam bastante normais. Na baía, um rebocador tinha um osso nos dentes: um grande paquete que viera dos confins do Pacífico azul. Mesmo em frente do parque de estacionamento, um grande armazém de cimento armado parecia bem substancial, impondo a sua realidade.
- Tome a sua senha... - foi tudo quanto o guarda disse, antes que uma luz intolerávelmente brilhante explodisse no céu. Surgira para os lados de Pasadena, sobre a Rose City, ou talvez sobre a parte baixa de Los Angeles. A sua distância era difícil de determinar, mas a intensidade não. Era mais brilhante do que o Sol. Quando relampejou no céu, a luz do Sol pareceu apagar-se e tornar-se numa claridade muito fraca. Tom Watkins apenas a viu de relance pelo canto dos olhos. O guarda, olhou-a de frente. Deixou cair a senha, levou as mãos aos olhos e começou a gritar:
- Estou cego! Estou cego!
Nenhum som acompanhara a luz - por enquanto.
Tom Watkins não necessitava que alguém lhe dissesse que luz era aquela. Soube imediatamente de onde ela viera - sabia-o melhor que o seu próprio nome, sabia-o com uma certeza absoluta. Olhou para a rua o tempo suficiente para localizar o circuito, o A e a seta indicadora, depois abriu de um sacão a porta do seu carro e saltou. 
- Venha comigo, homem! Não há tempo a perder!
- Estou cego! - gritou o guarda. - Chame um médico, depressa!
- Não há tempo para médicos. - Watkins não quis olhar para ela, mas sabia que a luz ainda brilhava no céu. Nem quis acrescentar que talvez nunca mais houvesse tempo para procurar um médico. - Venha daí! Eu guio-o! - Agarrou nos braços do guarda. Watkins não conhecia o homem. Estava a apenas a tentar ajudar um ser humano.
-Largue-me! Não me toque! - Soltando-se bruscamente, o guarda procurou dirigir-se para a sua barraca. Watkins viu-o de relance a tentar telefonar. Não quis ver mais nada. Nem sequer tentou servir-se do carro. Sabia que dentro de segundos, antes que o pudesse virar em direcção à rua, seria um monte de sucata retorcida.
A menos que ele alcançasse bem depressa o abrigo, seria também um monte de sucata - humana - retorcida. Dirigiu-se também para ele, a correr.
Na rua os carros corriam também em direcção ao passeio. Os pára-choques batiam e os guarda-lamas amachucavam-se. Algumas pessoas que, como o guarda do parque de estacionamento, tinham olhado para a luz brilhante quando ela surgira no céu, cobriam agora os olhos com as mãos e começavam a gritar. Outras, ainda capazes de ver, dirigiam-se para o lugar onde a seta apontava para uma escada que conduzia a uma arcada entre dois edifícios. Mas a maior parte delas não compreendera ainda o que havia acontecido. Até que uma - uma mulher gorda, com um grande saco de compras - compreendeu: 
- Foi uma bomba atómica! - gritou ela. Largou o saco e começou a correr na direcção da seta. Tom Watkins não lhe quis dizer que a luz que ainda brilhava no céu não provinha de uma bomba atómica. 
Fora gerada por uma bomba de hidrogénio.
Depois de a mulher gorda ter gritado, toda a gente que a ouvira sabia o que estava a enfrentar, e a rua tornou-se estranhamente silenciosa. A luz do céu estava agora a perder intensidade. No entanto, parecia que havia no ar uma inacreditável tensão eléctrica. Dir-se-ia que ela abafava os sons, mas não amortecia os pensamentos. Tom Watkins desejou que ela o houvesse feito. Os seus pensamentos nada tinham de agradáveis.
Pensava que aquilo era o princípio da última guerra a que a Humanidade assistiria. Aqueles que sobrevivessem - e alguém houvesse - teriam de voltar aos pântanos, às selvas e às solitárias cadeias de montanhas, para daí recomeçarem a lenta marcha da civilização. Muitas gerações seriam necessárias para eliminar dos filhos dos sobreviventes daquele dia as deformações resultantes da radiação e da precipitação dos detritos. Os filhos do homem e os filhos dos seus filhos mudariam. Seriam ainda humanos quandoa sua criação se estabilizasse finalmente?
Watkins chegou ao cimo das escadas. À esquerda estava uma loja de aparelhos de rádio e televisão e reparações de equipamento electrodoméstico. Notou que tinha em exposição, na montra, alguns contadoers de radiação. Do outro lado havia uma pequena loja que expunha malas de viagem numa montra e perfumes na outra.
A onda de choque surgiu, ressoando através do céu - BRUUUUMMMMM! BUUUNG! BRUUUUMMMMM! - como as trombetas do Juízo Final. Abalou a terra, o ar acima da terra e a estratosfera por cima dele. Tom Watkins sentiu a pressão bater-lhe nas costas e lançá-lo pelas escadas abaixo. Tropeçando, conseguiu agarrar-se ao corrimão e equilibrar-se. Os degraus de cimento tremiam sob os seus pés. À sua volta, caíam pessoas, como palitos no jogo da malha. A mulher gorda passou por ele, acompanhada por um homem alto, parecendo folhas arrastadas por um furacão.

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Introdução:

Ainda que seja pouco conhecido do nosso público, Robert Moore Williams é um dos mais antigos, mais prolíficos e considerados autores de ficção-científica.
Muitas das suas obras - em particular a célebre novela Doomsday Eve - têm sido publicadas em antologias. Em Bomba-H Sobre Los Angeles (The Day They H-Bombed Los Angeles) ele retoma, até certo ponto e com a sua habitual mestria, um tema que a Humanidade desejaria jamais ver tornar-se realidade - o bombardeamento termonuclear de uma grande cidade.
Se a descrição da catástrofe - da maior catástrofe que o homem pode provocar - é esmagadora, principalmente pelo pormenor humano, as suas causas são as mais inesperadas que é possível conceber. E, no entanto, nada têm de fantásticas. Só um grande autor - um homem "que tem a arte de escrever no seu sangue", como Robert Moore Williams - seria capaz de colocar com tanta inteligência e vigor, lado a lado, a verdade e a imaginação. Porque as causas da destruição de Los Angeles seriam mais terríveis que a própria Bomba-H.

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