nº 361 - A Luz e as Trevas



Autor: L. Sprague de Camp
Título original: Lest Darkness Falls
1ª Edição: 1939
Publicado na Colecção Argonauta em 1987
Capa: A. Pedro
Tradução: Eurico da Fonseca

Súmula - Foi apresentada no livro nº360 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

Martin Padway, um arqueólogo do século XX, ao passear pelas ruas de Roma, vê-se de súbito - inexplicavelmente - transportado para o século VI. sabe que as trevas se aproximam, que a civilização romana está moribunda e que um tempo de miséria, ignorância e superstição vai surgir e perdurar.
Padway decidi lutar. Põe os seus conhecimentos de homem moderno em acção. Tornado no Questor Martinus Paduci, simula a invenção da imprensa e dos jornais, dos algarismos árabes, da contabilidade, da destilação, e redescobre a astronomia copernicana. Um dia irá mais longe - a máquina a vapor, a bússola o telégrafo eléctrico. Com isso conquista fama e inimigos. Mas o seu objectivo não é um triunfo pessoal; é o de repelir as trevas com a luz do Conhecimento e, assim, modificar a História. 
Consegui-lo-á?
Eis um pequeno excerto:

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Tancredi tirou de novo as mãos do volante e acenou com elas:
- Invejo-o, Dr. Padway. Aqui em Roma ainda temos algum trabalho a fazer. Mas... trata-se de pormenores. Nada de importante, nada de novo. E restauros. Ah!
Martin Padway respondeu pacientemente:
- Professor Padway, como disse não sou doutor. Espero sê-lo dentro em pouco, se conseguir fazer uma tese daquela escavação no Líbano.
Tancredi agarrou o volante a tempo de evitar um carro de luxo e retorquiu:
- Qual é a diferença? Aqui toda a gente é doutor mesmo que não seja. E você é jovem e inteligente. De que estava eu a falar?
- Depende - Padway fechou os olhos quando um peão escapou por pouco à morte.
- Falámos sobre as inscrições etruscas, a natureza do tempo, a arqueologia roma...
- Ah! A natureza do tempo! É uma ideia minha, um disparate. Estava a dizer que aquela gente que desapareceu foi pelo tronco abaixo.
- Quê?
Pelo tronco do tempo. Quando deixam de escorregar por ele, encontram-se num tempo qualquer do passado. Mas tão depressa fazem alguma coisa, mudam toda a história subsequente.
- Parece um paradoxo.
- Não. O tronco continua a existir, mas no sítio onde um deles parou nasce um novo ramo. Tem de ser, porque então os nossos pais nunca se teriam encontrado e nós não existiríamos. A história é uma teia tetradimensional. É uma teia muito forte, mas tem pontos fracos. As áreas de junção - os pontos focais - são fracos. A escorregadela, se for um facto, deve dar-se nesses pontos.
- Que entende por pontos focais?- perguntou Padway; na verdade aquilo parecia-lhe um disparate.
- Os lugares como Roma, onde se intersectam as linhas de tantos acontecimentos famosos. Ou Istambul. Ou Babilónia. Recorda-se do arqueólogo Skrzetuski, que desapareceu em Babilónia?
- Pensei que tivesse sido morto pelos árabes.
- Nunca encontraram o corpo dele. Roma pode vir bem depressa a ser o centro de ponto de intersecção de grandes acontecimentos. Isso significa que a rede está a enfraquecer outra vez.
- Espero que não bombardeiem o Fórum.
- Não. Não haverá mais guerras, toda a gente saber que é demasiado perigoso. Venha jantar comigo amanhã que lhe mostrarei as equações. Mas não fale disto aos meus colegas. É uma excentricidade inofensiva. Você é casado?
- O quê? Ah! Sim..
- Belo. Leve-a. Vão ver o que é a verdadeira cozinha italiana.
- Ela está em Chicago. - Padway não se sentiu disposto a explicar que estava separado da mulher havia mais de um ano. Só por loucura se explicava que um explorador sempre ausente, um homem de orelhas e nariz tão grande que lhe chamavam o Rato, se tivesse casado.  
Apeou-se na Plazza dell Pantheon e Tancredi afastou-se a acenar e a gritar:
- Amanhã às oito da noite, não se esqueça. 
Padway olhou para o edifício durante alguns momentos. Considerara-o sempre muito feio, com a frente coríntia no meio da rotunda de tijolos. Sem dúvida que a grande cúpula fora uma notável obra de engenharia, considerando a época em que fora construida. Chovia fortemente e decidiu abrigar-se no pórtico. Teve de saltar, para não ficar todo enlameado quando um militar, numa motocicleta, passou por ele.
Subitamente, um relâmpago enorme, o maior de quantos já vira, caiu na Plazza, à sua direita. O pavimento pareceu fugir debaixo dos pés dele, como um alçapão que se abrisse. Os pés pareciam pendurados no vácuo.

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