nº 162 - Areias de Marte





Autor: Arthur C. Clarke
Título original: The Sands of Mars
1ª Edição: 1951
Publicado na Colecção Argonauta em 1970
Capa: Lima de Freitas
Tradução: Eurico da Fonseca

Súmula - foi apresentada no livro nº161 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

A Pulga saltou para a frente e a Crista do Arco-Íris depressa desapareceu atrás deles. Estava agora a seguir um caminho tortuoso através de uma área inteiramente nua e até as árvores petrificadas tinham desaparecido. Por vezes, Gibson via uma mancha verde que ele pensava ser vegetação, mas quando se aproximavam, verificavam invariávelmente que se tratava de um afloramento de minério. Aquela região era fantásticamente bela, o paraíso de um geólogo, e Gibson fazia votos para que nunca fosse devastada pela abertura de minas. Era certamente um dos mais atraentes lugares de Marte. 
Viajavam havia meia-hora quando as colinas desceram até um longo e sinuoso vale que era sem dúvida o leito de um antigo curso de água. Talvez durante cinquenta milhões de anos antes, pensou o condutor, um grande rio tivesse passado por ali, para levar as suas águas até ao Mare Erythraeum - talvez um dos poucos "mares" marcianos que, ainda que com algum atraso, merecesse esse nome. Pararam a Pulga e olharam para baixo, para o leito seco do rio, com uma sensação não muito bem definida. Gibson tentou imaginar a cena tal como ela seria nos dias remotos em que os grandes répteis dominavam a Terra e o Homem era ainda um sonho num futuro distante. As colinas vermelhas não deviam ter mudado muito, em todo esse tempo, mas entre elas o rio devia ter caminhado sem muita pressa para o mar, correndo lentamente sob a fraca gravidade. Era uma cena que quase poderia ter pertencido à Terra - e teria sido alguma vez presenciada por olhos inteligentes? Ninguém sabia. Talvez tivessem existido Marcianos nesses tempos, mas o Tempo fizera-os desaparecer por completo.
O velho rio deixaram uma herança,  porque ainda havia humidade nos pontos mais longos do vale. Uma estreita cinta de vegetação surgia do Erythraeum, com o seu verde forte, a contrastar vivamente com o vermelho das colinas. As plantas eram aquelas que Gibson já encontrara do outro lado das colinas, mas aqui e ali havia algumas desconhecidas. Eram suficientemente altas para que lhe pudessem chamar árvores, mas não tinham folhas - apenas ramos finos como chicotes que tremiam continuamente apesar da calma do ar. Gibson pensou que tinha visto algumas das coisas mais sinistras da sua vida - que as plantas eram capazes de agarrar repentinamente com os seus tentáculos alguém que passasse por elas, sem suspeitar. Na verdade, como ele bem sabia, eram tão inofensivas como tudo o mais que havia em Marte.
Ziguezaguearam até ao fundo do vale e começavam a subir a encosta em frente quando o condutor fez parar súbitamente a Pulga.
- Olá! - exclamou ele. - É estranho! Não sabia que havia trânsito por aqui!
Durante um momento, Gibson, que não era tão bom observador como desejava, não compreendeu o que acontecera. Depois, notou um ténue rasto que corria através do vale, numa perpendicular ao caminho que seguiam.
Devem ter passado por aqui veículos bastante pesados - disse o condutor. - Tenho a certeza de que este rasto não existia da última vez que passámos por aqui... vejamos... há um ano. E não houve qualquer expedição a Erythraeum desde então.
- Para onde é que ele se dirige? - perguntou Gibson.  
Bem, se subirmos o vale até ao cimo da colina voltaremos a Port Lowell: é o que eu tenho tenções de fazer. A outra direcção só pode conduzir ao Mare.
 - Temos tempo. Vamos segui-lo durante alguns quilómetros.
Sem hesitar, o condutu rodou a Pulga e desceu o vale. De tempos a tempos, o rasto desaparecai sobre a rocha lisa, à flor do solo, mas voltava sempre a aparecer. No entanto, a certa altura, perderam-no por completo.
O condutor fez parar a Pulga.
- Não sei o que aconteceu - disse ele. - Só podia ter seguido numa direcção. Viu essa passagem a cerca de um quilómetro atrás. Aposto dez contra um que ele foi por ali.
- Nesse caso, apra onde iriam?
- Isso é o mais curioso. É um perfeito beco sem saída. Há um pequeno anfiteatro, muito bonito, com cerca de dois quilómetros de largura, mas não se pode sair dali excepto pelo mesmo caminho por onde se entrou. é um lugar bonitinho, bem abrigado e com alguma água na Primavera.
- Um bom esconderijo para contrabandistas - disse Gibson, a rir-se.     

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