nº 32 - Robinsons do Cosmos


Autor: Francis Carsac
Título original: Les Robinsons du Cosmos
1ª Edição: 1955
Publicado na Colecção Argonauta em 1956
Capa: Cândido Costa Pinto 
(esta é a última capa de Cândido Costa Pinto na Colecção, pelo que incluo no final um texto sobre ele, como homenagem).
Tradução: Mário Henrique Leiria

 
Súmula - foi apresentada no livro nº31 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta:

Não farei aqui a história do cataclismo nem a da conquista de Tellus. Tudo isso pode ser encontrado, num estudo detalhado, nas obras do meu irmão. Desejo simplesmente contar a história da minha própria vida. Todos vós, que descendem de mim e dos meus companheiros e vivem neste mundo que é vosso por direito de nascimento, gostarão talvez de conhecer as impressões e as lutas de um homem, nascido num outro mundo e que para aqui foi transportado por um fenómeno sem precedentes e ainda mal explicado, e que quase desesperou, antes de compreender que magnífica aventura se lhe oferecia.
Para que escrever este livro? Poucos de entre vós, sem dúvida, o lerão. Já conhecem o essencial. Assim, é sobretudo para as épocas futuras que escrevo. Lembro-me que nessa Terra que vos é desconhecida e que jaz em qualquer ignorado canto do Espaço, a curiosidade dos historiadores se agarrava aos testemunhos dos homens dos tempos passados. Quando quinhentos ou seiscentos anos tiverem decorrido, este livro terá o interesse de ser a descrição de uma testemunha ocular do Grande Início.
Na época em que começa  a minha história, não era eu o velho curvado e um pouco tonto que hoje sou. Tinha então vinte e três anos e, depois disso, já passaram sessenta! Sessenta anos que deslizaram como rápida onda. Sei que estou a decair: os meus movimentos estão longe de ter a precisão de outrora, canso-me rápidamente e não ligo importância a muitas coisas, salvo aos meus filhos e aos meus netos e também um pouco à geologia e a aquecer-me ao Sol - ou antes, aos Sóis, visto que há dois que nos iluminam. Assim, trato de ditar aos meu neto Pierre - pois as mãos tremem-me demais para escrever - a história magnífica e única de um destino humano. Auxilio-me, para isso, com o diário que durante toda a minha vida escrevi e que destruirei, uma vez a minha tarefa acabada. Tudo o que tem importância, será dito aqui. Para o resto, não estou para entregar à curiosidade, por vezes um pouco sádica, dos historiadores, aquilo que foram as minhas humildes alegrias ou penas.
Enquanto isto, vejo pela janela o trigo ao vento, e parece-me por um momento ter voltado à minha Terra natal, até ao momento em que noto que as árvores têm duas sombras...

Com este prólogo inicia Jean Bournat o seu livro, espantosa história de um punhado de homens lançados num mundo desconhecido por um inexplicável cataclismo. As suas espantosas descobertas, o seu encontro com outros seres pensantes, habitantes desse estranho mundo baptizado Tellus, as suas lutas e progressivas explorações de um novo universo, tornam Robinsons do Cosmos um dos mais atraentes livros de ficção-científica publicados nesta colecção.


Nota sobre Cândido Costa Pinto (1911-1977):

Entre o início dos anos 20 e o início dos anos 70, Cândido Costa Pinto desenvolveu uma obra imensa explorando, com notável virtuosismo, diferentes suportes, meios e linguagens da pintura à publicidade, da caricatura à arte mural.
Nestas linhas interessa-nos recordá-lo como um dos mais importantes designers gráficos portugueses entre as décadas de 30 e 50. Nascido na Figueira da Foz, publicou a sua primeira caricatura num jornal regional, em 1923, com doze anos de idade. A tuberculose que o atacou aos dezoito anos obrigou-o a viver, durante mais de dez anos, entre sanatórios, tendo sido salvo, nas suas palavras, pela “magia da arte”, curado ao que consta pelos benefícios de um colete de zinco e cobre, revestido de símbolos gráficos de todas as religiões do mundo, adquirido a um refugiado polaco.
Entre 1941-1949 trabalhou para a Companhia Portuguesa de Higiene como designer gráfico, publicitário e director dos serviços de tipografia da companhia, destacando-se pela utilização frequente de suportes pobres (platex, contraplacado, cartão) na produção das suas obras. Em 1949 começa a colaborar com os CTT (ligação que durará até 1972) renovando a linguagem gráfica da arte postal portuguesa e educando uma nova geração de artístas (Abel Manta, José Pedro Roque Martins Barata, Sebastião Rodrigues) que se lhe seguirão. De igual modo, a Costa Pinto se deve uma importante acção da evolução gráfica ao nível editorial (magníficas as capas dos livros das colecções Vampiro e Argonauta) e do cartaz, sendo a par de Victor Palla e Fred Kradolfer um dos maiores impulsionadores da renovação gráfica portuguesa dos anos 40 e 50.
Investigador e teórico, alguns dos seus textos são exemplos excelentes de uma consistente reflexão crítica sobre a função da arte, do design e da comunicação (leia-se o actual “Sabe anunciar bem?” Diário Popular, 2 de Setembro de 1945 ou o fundamental “Surrealismo, arte e política” escrito no Brasil em 1969). Lúcido e empenhado politicamente, no catálogo da exposição de 1951 no SNI escrevia que “se o pintor tem fundamentalmente dever de pintar bem, acompanhar de perto os problemas gerais da sua geração é também da sua obrigação.”
Esquecido durante a década de 1980, a Fundação Calouste Gulbenkian dedicou-lhe uma importante exposição retrospectiva em 1995. Porém, nos últimos dez anos, Costa Pinto, “um homem complicado” (como a si próprio se retratou) e um artista gráfico notável voltou a cair num desconhecimento tão incompreensível quanto injusto.

Fonte:

http://reactor-reactor.blogspot.pt/2008/07/cndido-costa-pinto-1911-1977-entre-o.html

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