nº 320 - Mensagens do Futuro



Autor: Isaac Asimov
Título original: The Future in Question
1ª Edição: 1980
Publicado na Colecção Argonauta em 1984
Capa: A. Pedro
Tradução: Eurico da Fonseca 

Súmula - Foi apresentada no livro nº319 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

As novelas curtas, os contos, as short stories são, na opinião de muitos, a expressão mais alta e mais típica da ficção-científica. Mensagens do Futuro é a versão portuguesa de The Future in Question, organizada por Isaac Asimov, Martin Greenberg e Joseph Orlander. Para se avaliar da sua qualidade, basta dizer que dela faz parte a obra-prima de Edmond Hamilton, a célebre What's It Like Out There? - (Como é Aquilo por Lá?), considerada unânimemente como a melhor novela curta de ficção-científica de todos os tempos - a história incrivelmente humana da primeira expedição ao planeta Marte, contada com um verismo e uma dramaticidade que nunca foram ultrapassados.
Outros autores representados na colectânea - que tem uma introdução de Isaac Asimov - são Brian Aldiss, Mark Clifton, Arthur C. Clarke, Robert Sheckley, Robert Silverberg, Ron Goulart, James Triptree Jr., e Kate Wilhelm.

Introdução

A Natureza do Título

Segundo a minha própria maneira de pensar, um título é parte integral de uma história e é por isso que as histórias integradas nesta antologia foram escolhidas tal como foram (para além do facto de, de resto, serem histórias muitíssimo boas).
Posso explicar?
Quando um escritor rumina a história que vai escrever, pensa em coisas diferentes. Pode pensar na ordem dos acontecimentos, enquanto os planeia, e o seu método para alcançar o clímax.; em como ele pode obscurecer um ponto qualquer para evitar que as coisas falhem; em como arranjar a acção de modo a corresponder à personagem e vice-versa - mas não pode deixar de pensar constantemente no ponto central da história, na sua essência.
Muitas vezes, o título exprime esse ponto e surge das ruminações do autor, de modo muito automático e quase inevitável.
Deixem que lhes apresente um exemplo extraído do meu próprio trabalho. Escrevi em tempos uma história chamada "O Rapazinho Feio" . Era sobre uma criança Neanderthal, trazida para o presente e deixada crescer no presente em circunstâncias difíceis. Podia ter-lhe chamado "O Último Neanderthal", o que teria estado bem próximo da verdade, mas não teria representado o objectivo da história.
Na história, uma mulher tomava conta da criança, e a sua interacção com ela não se baseava no facto de ela ser uma Neanderthal. O facto de ele estar fora do teu tempo é que dominava a história e conduzia a uma catástrofe, mas não importava para a mais profunda relação humana. A mulher era repelida pela criança porque era feia - ainda que pudesse ser bela para uma mãe de Neanderthal - mas a mulher acaba também por gostar dela, e isso também tem o seu papel na catástrofe. "Isso", é o principal da história: a aparência superficial não importa e não dita o amor.
Portanto o título deve pôr isso em evidência e ao chamar à história "O Rapazinho Feio", ponho em destaque aquilo que o amor vence: o factor físico, que é tão importante no começo e é tão insignificante e até irrelevante no final. A história significa mais com esse título do que significaria como "O Último Neanderthal".
Não tive de pensar muito para chegar ao título. Quando construí a história na minha mente, pensei automaticamente nela como a história de um rapazinho feio, e foi isso mesmo.
Em minha opinião, a essência de um bom título pesa mais depois de termos completado a história do que antes de a começarmos. Se isso não for verdade, então ou a história ou o título, ou ambas as coisas, são triviais.
Por exemplo, a mais conhecida das minhas histórias curtas é a pequena novela "O Cair da Noite" - (Nightfall), que conta a história de um eclipse de um sol num planeta muito distante. Esse eclipse dura algumas horas e representa uma espécie de cair da noite, a única da sua espécie que o planeta (com seis sóis ao todo) alguma vez teve, fisicamente. Em consequência desse eclipse e da escuridão por ele gerada, os habitantes do planeta, considerando a escuridão inconcebível, enlouquecem e a civilização planetária desmorona-se. O planeta demora séculos a recuperar. 
"Nightfall" refere-se portanto à ocorrência de um breve período de escuridão literal como resultado de um eclipse, e também ao princípio de um longo período de trevas figurativas como resultado do desabar de uma civilização - ambos iniciando-se simultâneamente. O significado aplica-se a ambos com igual força, de modo  que o título é perfeitamente equívoco.
O leitor não poderá deixar de ser afectado pelo título se tiver alguma sensibilidade, e de o ler pensativamente, mesmo que não lhe dê nenhuma atenção consciente. Acontece, simplesmente, que "Nightfall" não teria a mesma eficiência com outro título.
Bem, Marty, Joe e eu, ao planearmos uma antologia e ao desejar usar um plano de organização que fosse novo, pensámos em baseá-lo em títulos.
Mas como classificar os títulos?
Pareceu-nos que escolher títulos que fossem demasiado subtis poderia tornar tudo demasiado subjectivo. No fim de tudo, o que "nós" vemos num título pode não ser o que os "outros" vêem nele. Tivemos de escolher alguma coisa sobre a qual não houvesse discussão, e qualquer coisa que fosse significativa, pois queríamos fazer uma antologia importante, e não uma trivial.
Suponhamos que queríamos fazer uma antologia de histórias com títulos de uma só palavra. É uma possibilidade que daria um índice com uma aparência interessante, mas representaria de facto os títulos dos autores? Por vezes, os títulos de uma só palavra foram escolhidos porque os editores gostaram deles. John Campbell, da "Astounding", adorava títulos de uma só palavra. Pareciam-lhe de bom aspecto na capa das revistas.
Aquilo a que finalmente chegámos, foi à ideia de que seria interessante escolher uma série de histórias extraordinárias da ficção-científica, em relação às quais os autores tivessem achado adequado usar um título que correspondesse a uma pergunta.
Porque não? Uma história realmente boa não responde a tudo. No fim de tudo, a vida não é uma resposta para tudo. Restam ambiguidades. Resta o espaço para a dúvida. O uso de uma interrogação no título, vai pôr em evidência essa inpressão. 
- Bem, Marty, Joe e eu não vamos tentar fazer filosofia sobre as histórias da antologia, mas os títulos são todos perguntas e isso pode ser significativo. Gostaríamos que considerassem pessoalmente essa possibilidade e, quem sabe, pode ser que isso aprofunde o significado dessas histórias para cada um de vós.

Isaac Asimov

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Índice:

Como é Aquilo por Lá? - Edmond Hamilton, (pág. 9)

O falecido Edmond Hamilton foi um dos pioneiros da ficção-científica norte-americana, tendo a sua primeira história The Monster-God of Marmurth, aparecido nos Weird Tales, em 1926. Mais conhecido pelas suas séries Interstellar Patrol e pelas novelas do Captain Future que foram uma característica regular do grupo Standard de revistas de ficção-científica, Hamilton era um escritor muito melhor do que os seus esforços nessa fórmula poderiam indicar. As histórias recolhidas em The Best of Edmond Hamilton (1977), são de uma particular excelência.
What It Like Out There? - (Como É Aquilo Por Lá?), é sem dúvida a sua melhor história, e a interrogação contida no título é a razão por que muitas pessoas lêem (e escrevem) ficção-científica. 

Quem Poderá Substituir o Homem? - Brian Aldiss, (pág. 39)

Quase tão famoso nos Estados Unidos como na sua Inglaterra nativa, Brian W. Aldiss é autor de cerca e vinte e cinco novelas e colectâneas de ficção-científica. São especialmente dignas de nota as novelas Barefoot in the Head (1970), The Dark Light Years (1966), Frankenstein Unbound (1975), e Report on Probability (1969). A sua história The Saliva Tree, ganhou um Nebula em 1965.
A questão do que, se alguém (ou alguma coisa) emergir depois da nossa espécie ter desaparecido de cena tem sido tratada por muitos autores de ficção-científica, mas raramente com a força e a beleza desta história. 

Que Foi que Eu Fiz? - Mark Clifton, (pág. 53)

O falecido Mark Clifton (1906-1963) era um escritor entre os escritores, reconhecido entre os profissionais como um grande talento, capaz de abordar temas difíceis com uma habilidade consumada. A sua profissão não relacionada com a escrita era a de entrevistar o pessoal na indústria, e todo o seu trabalho se caracterizou por uma profunda compreensão da condição humana. Com Frank Riley como co-autor, obteve o Prémio Hugo em 1955 por They'd Rather Be Right, uma das melhores e das mais engraçadas novelas sobre os computadores alguma vez escritas.
Que Foi Que Eu Fiz? - (What Have I Done?), é um brilhante comentário sobre a espécie humana e foi a primeira história publicada por Mark Clifton.

Quem Está Aí? - Arthur C. Clark, (pág. 77)

Um dos mais famosos escritores de ficção científica em todo o mundo, autor de obras que fizeram época, como Childhood's End (1953 - publicado na Colecção Argonauta com o nº 26); Rendez-Vous with Rama (1973 - publicado com o nº 317), Arthur C. Clarke tem também feito importantes contribuições para a divulgação da ciência e foi um dos maiores promotores do voo humano no espaço. A ele se deve também a ideia da utilização dos satélites nas comunicações a nível mundial. As suas histórias e novelas contêm uma ficção-científica dura, cuidadosamente extrapolada, com muita atenção à precisão científica e à probabilidade.
É, portanto, uma surpresa agradável apresentar esta deliciosa história, de um encontro entre um astronauta e um fantasma! 

Você Sente Alguma Coisa Quando Eu Faço Isto? - Robert Sheckley, (pág. 85)

Robert Sheckley tem dado momentos de entretenimento aos leitores de ficção-científica desde que a sua primeira história foi publicada, em 1952. Talvez entretenimento seja uma palavra errada, pois que Bob Sheckley é um escritor sério, duro e cínico, com coisas importantes para dizer sobre a sociedade e sobre os que por vezes tiram proveito dos seus males, a psiquiatria, o real e o irreal e o talvez real.
Esta história mostra Sheckley no topo da sua forma, com a confrontação clássica entre o homem e a máquina. Você Sente Alguma Coisa Quando Eu Faço Isto? - é também a história que dá o título a uma das suas colectâneas mais recentes. 

Porquê? - Robert Silverbert, (pág. 99)

Robert Silverberg produziu mais obras de mérito duradouro em ficção-científica a partir de 1968 que qualquer outro autor. Novelas tais como Dying Inside (1971), Hawskbill-Station (1968), Nightwings (1969), The World Inside (1971), A Time of Changes (1971), The Scholastic Man (1975), para falar somente das primeiras, constituem apenas uma porção da sua produção de qualidade. É difícil crer que o autor de tantas dezenas de livros de ficção-científica e de tantos outros fora desse campo, tenha publicado a sua primeira história apenas em 1954.
Esta é uma colectânea de interrogações, em matéria de ficção-científica,  e a que Robert Silverberg apresenta é uma das mais importantes - porquê ir para o Espaço? Porquê correr os riscos? Porquê?

Que Aconteceu ao Rosca-Moída? - Ron Goulart, (pág. 117)

 Ron Goulart é um mestre de ficção-científica louca, humorística, uma forma pouco apreciada e muito difícil. As suas numeroras novelas e histórias constituem um ataque devastador à cultura americana contemporânea, especialmente em livros como After Things Fell Apart, Crackpot e Gadget Man. A comédia é um assunto sério e Ron Goulart tem um sério talento.
Esta história mostra-o no topo da sua forma, respondendo a uma pergunta que os estudiosos e os mecânicos têm andado a fazer desde tempos imemoriais.

Houston, Houston, Estão a Ouvir-me? - James Tiptree, (pág. 135)

O em tempos misterioso James Tiptree Jr., é o autor de três colectâneas de histórias Ten Thousand Light-years from Home, Warm Worlds and Otherwise e Star Songs of an Old Primate, e também de uma novela Up the Walls of the World. A identidade real de Tiptree foi um segredo cuidadosamente guardado durante anos, mas acabou por se descobrir que se tratava de Alice Sheldon, nascida no Wisconsin. Assim acabou o maior mistério na ficção-científica desde Cordwainer Smith. Miss Sheldon ganhou um Hugo com The Girl Who Was Plugged in (1974 e um Nebula com Love is the Plan the Plan is Death (1973).
Houston, Houston, Estão a Ouvir-me?- é uma das suas melhores. Ainda que o título seja uma frase contemporânea no programa espacial dos EUA, as interrogações que surgem na história são de todos os tempos.

Onde Estiveste, Billy Boy, Billy Boy? - Kate Wilhelm, (pág. 207)

Autora de vinte novelas e colecções de histórias de ficção-científica, Kate Wilhelm é considerada como um dos mais finos talentos que trabalham actualmente na ficção-científica. Ganhou um Prémio Nebula em 1968 com The Planners, e o Prémio Hugo de 1978 com a novela Where Late the Sweet Birds Song. As suas notáveis colecções de histórias incluem The Infinity Box (1975) e Somerset Dreams and Other Fictions (1978). Recorde-se também um dos seus mais recentes livros: Juniper Time (1979).
Onde Estiveste, Billy Boy, Billy Boy? - (Where Have You Been, Billy Boy, Billy Boy?), é uma das histórias mais calmamente assustadoras que alguma vez foram lidas.

A Pergunta Final - Isaac Asimov, (pág. 223)

A pergunta final e, por fim, uma RESPOSTA! Ou antes, uma espécie de resposta.

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