nº 44 - História de Dois Mundos


Autor: John MacDonald
Título original: Planet of the Dreamers
1ª Edição: 1951
Publicado na Colecção Argonauta em 1958
Capa: Lima de Freitas
Tradução: Mário Henrique Leiria


Súmula - foi apresentada no livro nº43 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta:

O Ministro começou a contar os automóveis - um, dois, três, quatro, cinco... depois contou tudo; pessoas, janelas, pregos do chão, moscas. Contou tudo durante dez horas, sem parar, até perder a voz. Ninguém o pôde impedir.
Suicídios, crimes provocados por uma violência súbita e inesperada.
"Martha Needis, a hospedeira de Jersey City que terça-feira passada assassinou seis hóspedes adormecidos com um martelo de amaciar carne, ainda está em fuga."
E outros. O homem sempre foi presa de instintos sanguinários, cruéis, capazes de o levarem a extremos incompreensíveis. 
- Os demónios entraram-lhe no corpo - diziam na Idade Média.
- Alienação temporária - diz-se hoje.
"Dr. Lane: estou a servir-me deste método de comunicação consigo. Não se alarme e não duvide de mim. Fisicamente, estou a cerca de quatro e meio anos-luz de si neste momento. Mas projectei os pensamentos em si e estou a servir-me do seu corpo para o que tenho a fazer. Chamo-me Raul Kinson e há tempo que ando a observar o seu projecto. Estou ansioso por que ele suceda, porque é a única possibilidade que o vosso mundo tem de se libertar daqueles entre vós cujas visitas são de temer, porque só querem destruir. Quero ajudar a criar. Mas há perigos contra os quais posso pô-lo de sobreaviso, perigos dos quais nao tem, por enquanto, ideia. Veja o que sucedeu quando o seu técnico, Kornal, foi possuído por um de nós. Nós somos os sobreviventes do vosso planeta pai. Não lhe quero dizer muitas coisas neste momento. Tenha a certeza que as minhas intenções são amigáveis. Não se alarme. Não caia no erro lógico de supôr que isto é uma indicação de desiquilíbrio mental. Tentarei comunicar consigo de uma maneira mais directa, dentro em breve. Escute-me quando o fizer."
O Dr. Bard Lane, cientista de primeira, encarregado, num vale perdido das montanhas do Sagre de Cristo, no Novo México, de um misterioso projecto, chamado nos meios oficiais Projecto Tempo, pensou ter enlouquecido. Era bem a sua voz que a fita magnética reproduzia, a sua voz e,  no entanto, que discurso tão estranho! O Projecto Tempo fora vítima havia pouco de um ataque de loucura de um dos técnicos que nele trabalhavam, que destruíra durante dez minutos delicada aparelhagem que levara meses a construir. O Projecto Tempo era a aplicação das teorias de Beatty, continuador de Einstein, à locomoção inter-astral. Devido a sair dos moldes clássicos, a ser dirigido por civis, contava com a oposição dos militares, que aproveitavam todas as oportunidades para o desacreditarem.
O Beatty Um, a primeira nave espacial na qual era aplicada a fórmula de Beatty, estava quase terminada. No entanto, parecia que alguma lei misteriosa impedia o Homem de sair do seu planeta. Todos os projectos precedentes não tinha resultado. Por isso, o Projecto Tempo era tão bem guardado. 
Pela mesma razão, ao ouvir a sua voz dizer coisas tão estranhas, o Dr. Bard Lane insistiu com a Dra. Sharan Inly para ser submetido a um exame psiquiátrico aturado. A Dra. Sharan Inly, jovem psiquiatra adida ao projecto tempo, concordou plenamente. Mas quando o major Leeber, delegado do Estado Maior junto do Projecto, entrou mais tarde no seu gabinete e lhe afirmou chamar-se Raul Kinson, já não soube o que pensar. Depois, foi ela própria que sentiu uma força estranha invadir-lhe a mente, foi o Dr. Delane que lhe veio afirmar ser Raul Kinson, sempre Raul Kinson, usando o corpo de qualquer pessoa. Teve que render-se à evidência. Havia um Raul Kinson. Mas quem era ele? O mundo de Raul Kinson tinha paredes. Era um mundo de salas, de rampas, de corredores. Nada mais existia. O pensamento não podia alcançar para além das paredes, para além das mais afastadas salas. Nada mais existia. O único fragmento de realidade no universo era esse mundo. Por isso, quando Raul Kinson começou a fazer perguntas, Jord Orlan, o Dirigente dos Vigias, ameaçou-o de ser expulso do mundo, se continuasse com heresias. O mundo era bom, era agradável. Tudo era automático, tudo existia assim, sempre assim existira, e sempre assim existiria. E sonhar era bom.
Havia os três mundos de sonhos. o primeiro, Marith, era o mais divertido. Ali os homens matavam-se, lutavam em guerras permanentes, lançavam os prisioneiros às feras, apunhalavam-ser, envenenavam-se. Era um mundo bárbaro, mas tão excitante... O segundo, Terra, era um mundo mecanizado. Os homens lutavam por dinheiro, com o qual conseguiam coisas agradáveis. A diversidadde de máquinas e leis permitia brincadeiras divertidíssimas. O terceiro mundo, Ormazd, era o mais aborrecido. Era um mundo de pensamento. As criaturas não falavam, mas transmitiam os pensamentos, toda a estrutura era dirigida no sentido mais abstracto. não se podia fazer nada com ele. 
Ah, como as máquinas eram inteligentes! Criavam criaturas que pareciam completamente reais, que sofriam, morriam, matavam, tudo em sonhos, claro. Os Vigia, ao chegarem a adultos, tinham o direito de sonhar. Introduziam-se no corpo dessas criaturas de sonho, e faziam-nas agir da forma mais incoerente. Que divertido era meter-se no corpo de um pai de família de sonho, e fazê-lo esmagar a cabeça dos seus cinco filhos de sonho, e vê-los, depois, sem compreender o seu gesto, apanhado, espancado, preso. Só era necessário respeitar a Lei. E a Lei dizia que era necessário impedir as criaturas de sonho de construirem aparelhos de sonho que os pudessem levar para fora dos seus mundos de sonho.
Raul dizia heresias, ao pretender que as criaturas de sonho era reais. Raul Kinson tentava provar aos Vigias que as criaturas de sonho eram reais. Bard Lane, tentava provar aos habitantes do seu planeta que os Vigias eram reais. Ambos foram perseguidos, troçados, condenados.
"História de Dois Mundos" é a história desses dois homens. Acusados de loucura ou heresia, ambos se viram na necessidade de suportar as suas afirmações com riscos das próprias vidas. Conseguiriam eles fazer prevalecer a verdade? O misticismo decadentes dos Vigias e a estupidez, a teimosia e a inveja do Governo dos Estados Unidos, opunham-se por todos os meios. Contra essa força dos Vigias, Raul Kinson e a irmã, Lesse Kinson, e um punhado de terrenos, Bard Lane, Sharan Inly,  Walter Howard Path. Só a força do amor fez Raul e Leesa tentarem a grande aventura, arrostarem milénios de superstição, para poderem juntar-se a Sharan e Bard.
É a história desse punhado de pessoas, lutando contra tudo e contra todos, que John D. MacDonald nos dá em "História de Dois Mundos", o próximo volume da Colecção Argonauta. 
Quem eram os Vigias? Porque se chamavam assim? O que eram as máquinas dos sonhos? Porque existiam? Porque proibía a Lei dos Vigias que as criaturas de sonho saíssem dos seus mundos?
Todas estas perguntas se puseram a Raul Kinston e a Bard Lane, e ao destemido grupo de pessoas que queriam impôr a verdade, e foram resolvidas pouco a pouco.
Pouco a pouco as resolverá o leitor também, lendo a "História de Dois Mundos", um romance apaixonante e excelentemente urdido

Nota: um grande livro, este do John MacDonald! Gostei imenso dele e reli-o várias vezes. Original e muito interessante. Mais uma obra publicada na Colecção Argonauta que na minha opinião daria um grande filme!

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