nº 519 - O Espaço Exterior



Autor: A. Bertram Chandler
Título original: The Rim of Space
1ª Edição: 1958
Publicado na Colecção Argonauta em Outubro de 2000
Capa: António Pedro
Tradução: Alexandra Santos Tavares 

Súmula - foi apresentada no livro nº518 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

Disseram-lhe que ia encontrar uma gente bem estranha entre os Cavaleiros do Espaço, na fronteira da eternidade. Que na sua maioria seriam refugiados da Comissão de Transporte Interestelar, do Serviço de Cartografia, do Correio Galáctico, da Companhia de Clippers... Derek Calver, porém, não se importou. Ele próprio se considerava um refugiado da Comissão.
E poderia ter acrescentado que estava também a fugir dos erros que tinha cometido, das oportunidades que desperdiçara, dos sonhos que deixara morrer.
Então, a bordo do Lorn Lady, uma nave obsoleta igual a tantas outras que por ali estavam ainda em serviço, Calver encontra Jane Arlen, que gostava de a si mesma denominar como Calamity Jane, e que fugia dos homens por estar convencida de que a todos traria desgraça...

Maclean cantarolou baixinho, ao compasso da música:
"Exilado do lar
Por capricho feminino
P'ra sempre no Espaço, 
Eterno peregrino..."
- É nesta altura - disse uma voz de mulher, rouca e sugestiva - que ele geralmente começa a verter lágrimas dentro do copo de uísque...
- Isso é falso, Arien - disse Maclean - e sabes bem que sim.
Calver voltou-se na sua cadeira. Viu o Comissário de Bordo, que já conhecia, e, ao seu lado, uma mulher alta com as divisas prateadas de Oficial de Aprovisionamento nos ombros. Era ligeiramente magra demais para se poder considerar convencionalmente elegante, possuía umas feições excessivamente pronunciadas e apresentava os sinais indeléveis de tensão passada. Havia uma surpreendente madeixa prateada nos seus brilhantes cabelos escuros.
A mulher disse:
- Presumo que seja Calver. O nosso Segundo Imediato.
- Sou, sim - disse Calver.
- Eu sou Arlen. Cozinheira chefe e lavadora de garrafas.
Estendeu-lhe uma mão magra e forte. Calver apertou-a. Os olhos dela, segundo pôde constatar, eram de um azul tão escuro que parecia quase negro. Tinha um sorriso um pouco oblíquo, que não o tornava menos atraente.
Pender, o pequeno Comissário de Boro, estava ocupado a trazer duas cadeiras extra, que colocou ruidosamente no lugar. A sombria criada trouxe mais copos.
Arlen sentou-se graciosamente e disse:
- Tente imaginar que está a bordo da Mala Real, Maclean. Seja um cavalheiro e sirva-me uma bebida.
O Imediato serviu as bebidas.
- Somos todos uns beberrões na Orla, Calver - disse Arlen. (Ela já tinha, concluiu ele, bebido uns copos a mais). - Todos bebemos bastante, apesar de termos compreendido, da maneira mais dura, que beber nada resolve. Mas não gostamos de bêbados alegres. O penúltimo Imediato, Wallis, era um bêbado alegre. Era tão alegre que não podíamos confiar nele quanto à carga. Para ele, era a mesma coisa que o centro de gravidade caísse na sala de comandos ou algures por baixo do tubo de "venturi" principal. Mas Maclean não é desses. Maclean chora para dentro do seu uísque e despeja um pouco por cima daquele absurdo distintivo da Mala Real que insiste em usar, e volta a cambalear para bordo, carregando todas as tristezas do Universo juntamente com as suas - e Deus valha ao estivador que tenha estivado uma placa de zinco fora do lugar amanhã de manhã!
- Pára com isso, Arlen - disse Maclean.
- O senhor é um bêbado alegre, Calver? - Perguntou ela.
- Não - respondeu ele. 
- Então é um dos nossos. Vai ser um dos autênticos Corredores da Orla, deslizando à beira da Eternidade num balde ferrugento super-ultrapassado, preso com cordéis e pastilha elástica, e sentindo um prazer masoquista em o fazer. Fugiu de si próprio até onde lhe foi possível e já não pode ir mais longe, e existe também nisso uma espécie de desesperada alegria. Não sei se bebe para esquecer. Não se bebe para entrar num estado de felicidade piegas e indiferente; bebe-se para intensificar os sentimentos para...
- Pára com isso, Arlen! - Explodiu Maclean.
Ela pôs-se de pé.
- Se é isso que sentes - disse friamente - é melhor ir-me embora.
- Uma pessoa já não pode tomar uma bebida em paz sem toda essa psicologia amadora? - Queixou-se o Imediato. - Bebo porque gosto de beber. Ponto final.
- Boa noite - disse ela.
- Eu acompanho-a até à nave - disse Calver.
- Não, obrigada - disse ela. - Já sou uma mulherzinha. Não tenho medo do escuro. Acha que trabalharia par os Exploradores da Orla se tivesse?

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